As usinas do Centro-Sul do Brasil, diante da queda nas estimativas para a safra 2011/12 e dos altos preços do açúcar, tendem a elevar ainda mais o percentual de cana destinada para a produção da commodity no momento em que a moagem já passou da metade, disseram analistas.
Dessa forma, sobraria menos matéria-prima para a fabricação de etanol na região que responde por cerca de 90 por cento da produção nacional de cana.
“A indústria de açúcar está operando com capacidade ociosa… Com essa quebra, a flexibilidade aumenta bastante… Ainda podemos ver um mix bem forte em açúcar”, disse o diretor da Job Economia, Júlio Maria Borges, acrescentando que hoje vale mais a pena para a indústria produzir açúcar.
Enquanto na temporada passada o centro-sul produziu 33,5 milhões de toneladas de aç úcar, na temporada atual a previsão da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) é de uma produção de 31,5 milhões de toneladas, seguindo uma queda esperada de quase 50 milhões de toneladas de cana, por conta de problemas climáticos e falta de investimentos nos canaviais.
A Unica previu no início de agosto que 48,06 por cento da safra de cana seria destinada à produção de açúcar, ante 46,94 por cento na primeira estimativa e contra 44,93 em 2010/11.
Extrapolando o atual percentual do centro-sul para o Brasil, seria o maior uso da cana para açúcar desde 2006/07.
Segundo Borges, o etanol anidro (misturado à gasolina), que vale mais que o hidratado (usado nos veículos flex), remunera somente o equivalente a cerca de 80 por cento do ganho com o açúcar, em meio à alta no mercado global.
O açúcar bruto está sendo negociado no mercado futuro perto dos maiores níveis em mais de 30 anos. A quebra na safra brasileira tem dado sustentação ao mercado.
Na segunda-feira, a consultoria Canaplan reduziu mais sua estimativa de safra de cana do centro-sul do Brasil, para 476 milhões de toneladas , contra 510 milhões de toneladas previstas pela Unica, o que pode apertar a situação.
“Na medida em que a safra fica menor, tendo em vista que este ano a prioridade de produção é o açúcar, com uma oferta menor de ATR (Açúcar Total Recuperável na cana) você tende a ter uma proporção dessa ATR destinada ao açúcar maior”, concordou o presidente da Datagro, Plínio Nastari.
“O produtor vai tentar, evidentemente, dar mais espaço para aquilo que dá mais retorno”, acrescentou o diretor da Archer Consulting, Arnaldo Corrêa, para quem a situação da oferta de açúcar potencializa alta dos preços no médio e longo prazos.
HIDRATADO VIRA FICÇÃO
Os especialistas consideram que a oferta de etanol hidratado deverá ser sacrificada, pois o preço do biocombustível frente à gasolina já não está competitivo em grande parte do país.
“Já é a segunda safra que ele é um produto de segunda classe… O etanol hidratado… simplesmente não vai vender, sobe o preço, mas não vende, vira uma ficção”, disse Borges.
Do lado do anidro, as usinas assumiram o compromisso de garantir a oferta tentando evitar alguma medida do governo, e elevaram a produção recentemente. Além disso, as importações estão em alta, devendo superar 1 bilhão de litros na atual temporada.