SÃO PAULO – A queda dos preços do combustível está agravando a maior depressão das commodities em uma geração. Como a energia é responsável por até metade dos custos de produção de alimentos e metais, todos os tipos de commodities vão continuar caindo, segundo o Société Générale e o Citigroup. Os grandes estoques e a desaceleração das economias estão prejudicando a demanda, e o petróleo mais barato reduz o preço mínimo com que as companhias mineradoras e os produtores continuam lucrando. O milho poderia cair mais 3%; o algodão, 6,5%, e o ouro, até 5%, estima o SocGen.
Os custos estão caindo devido ao surgimento de excedentes de cobre e de açúcar e devido à desaceleração da economia na China, a maior consumidora de energia, metais, carne suína e soja. O Bloomberg Commodity Index de 22 itens caminha para seu quarto declínio anual consecutivo, a maior depressão desde sua criação em 1991. O petróleo bruto do tipo Brent, a gasolina e o petróleo para aquecimento registraram as maiores perdas porque o aumento das perfurações nos EUA provocou uma guerra de preços com os produtores da Organização de Países Exportadores de Petróleo.
“Houve uma mudança estrutural no petróleo, e há mais por vir”, disse Michael Haigh, diretor de pesquisa sobre commodities do SocGen, com sede em Paris. “Este fenômeno também terá efeitos em outros mercados de commodities, em alguns casos de forma direta e, em outros, de forma indireta”.
O petróleo bruto do tipo Brent, a referência internacional, despencou 41% desde o final de junho, para US$ 66,58 por barril, pois a produção dos EUA atingiu o nível mais alto em três décadas. O preço hoje tocou a US$ 65,29, o menor desde setembro de 2009. O Bloomberg Commodity Index caiu 12% neste ano. O MSCI All-Country World Index de ações ganhou 2,9%, e o Bloomberg Dollar Spot Index subiu 9,5%.
A queda dos preços do petróleo será uma bênção para os consumidores, que poderão pagar menos pelos alimentos, disse Aakash Doshi, do Citigroup, em um relatório, no dia 3 de dezembro. Cerca de 45% das despesas operacionais do cultivo e da colheita de arroz provêm de insumos como combustíveis, lubrificantes, eletricidade e fertilizantes, de acordo com uma análise de dados do Departamento Americano de Agricultura, realizada pela Secretaria de Informações sobre Energia dos EUA. A energia representa cerca de 54% dos custos do milho e do trigo.
O petróleo mais barato não afeta as commodities somente por reduzir os custos de produção. Também está minimizando a perspectiva de altas nos preços ao consumidor, o que corrói o atrativo do ouro e de outros ativos utilizados como coberturas contra a inflação, disse Jeff Sica, presidente da Sica Wealth Management em Morristown, Nova Jersey.
Os futuros do ouro em Nova York despencaram para US$ 1.130,40 por onça em 7 de novembro, o mínimo desde 2010. As expectativas de inflação nos EUA, medidas pela taxa de equilíbrio a cinco anos do Tesouro, recuaram 29% neste ano e devem sofrer o maior declínio desde 2008.
O Goldman Sachs Group diminuiu sua perspectiva para os preços do cobre no dia 17 de novembro, mencionando a valorização do dólar e a queda dos custos dos insumos, como o petróleo. O banco reduziu sua perspectiva a seis meses em 6,1%, para US$ 6.200 por tonelada. Os preços estavam hoje em US$ 6.380,50. A energia equivale a cerca de 18% dos custos de produção, disseram analistas liderados por Max Layton.
“O que vemos numa fazenda são os tratores, os caminhões, as bombas de gasolina, os fertilizantes e os produtos químicos, então tudo está vinculado de algum modo à energia”, disse John Baffes, economista sênior do Banco Mundial em Washington. “Se a queda dos preços do petróleo se mantiver, ou se eles caírem ainda mais no futuro, a pressão sobre a agricultura vai aliviar muito”.
(Fonte: Infomoney)