Uma mudança na contabilização das vendas de querosene de aviação (Qav) para aeronaves com destino ao exterior ajudou a Petrobras a fechar 2006 com superávit de US$ 1,2 bilhão na balança de petróleo e derivados. Segundo a estatal, as importações de petróleo somaram US$ 8,6 bilhões e as de derivados custaram US$ 3 bilhões, resultando em importações totais de US$ 11,6 bilhões. Deduzidas as receitas de US$ 11,8 bilhões referentes a exportações de US$ 4,9 bilhões de derivados, e de US$ 6,9 bilhões com exportações de petróleo bruto, o saldo seria positivo em apenas US$ 200 milhões.
Mas a nova contabilização para o produto exportado elevou o saldo em US$ 1 bilhão (83,33% do total). No ano passado, a companhia reverteu o déficit de 2005, quando a balança de líquidos da Petrobras – que exclui as importações de gás natural da Bolívia – foi negativa em US$ 787 milhões. Em 2004, o resultado foi negativo em US$ 3,2 bilhões.
Como destacou o diretor da área de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, esse foi o primeiro resultado positivo da história da companhia. ” É um feito histórico, é algo extraordinário para nós em termos da nossa balança comercial ” , disse o diretor.
Até a mudança, a Petrobras contabilizava as vendas do combustível de aviação como sendo feitas para o mercado interno. O tratamento era diferente do adotado para a venda do combustível utilizado por navios (chamado ” bunker ” ), que já era computado como exportação nas vendas para navios de longo curso que deixam o país.
Tanto a Petrobras como a Agência Nacional do Petróleo (ANP) passaram a adotar a metodologia já usada pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que considerava como ” consumo de bordo ” o Qav brasileiro usado em vôos para o exterior. A Secex sempre entendeu que se tratava de um produto nacional ” exportado ” , mas a Petrobras considerava essa venda como fornecimento ao mercado interno, explicou Costa, lembrando que hoje a balança comercial brasileira é muito diferente da balança da Petrobras, já que outros atores importantes atuam no segmento.
O Qav ocupa o quarto lugar entre as maiores receitas da Petrobras com venda de combustíveis. No ano passado a companhia produziu cerca de 30 mil barris de Qav por dia, dos quais 40%, ou 12 mil barris/dia, foram exportados. Apenas três distribuidoras no Brasil fornecem combustível para aviões: BR (da Petrobras), Shell Aviation e, em menor escala, a BP.
O maior volume de exportações da Petrobras em 2006 foi de óleo combustível (125 mil barris/dia), seguido pelo bunker de navios (com 86 mil barris/dia) e da gasolina (42 mil barris), seguidos pelo Qav. Entre os principais destinos do petróleo exportado estão os EUA e Ásia (com destaque para a China) e Cingapura, de onde o produto é enviado para o Japão e a Coréia. No sentido contrário, as maiores importações foram de diesel, com média de 54 mil barris/dia, e nafta (22 mil barris/dia).
Paulo Roberto Costa recebeu o Valor ontem em sua primeira entrevista a um jornal depois de ter ficado 40 dias fora da empresa, internado devido a uma pneumonia que se apresentou junto com malária. Se mostrou animado com o as perspectivas de licenciamento da refinaria de Pernambuco, onde espera para março a assinatura do decreto de doação de um terço restante do terreno. O projeto está em fase de detalhamento e construção. Costa explicou disse que o orçamento inicial, que era de US$ 2,8 bilhões, deve sofrer acréscimo devido ao aquecimento do mercado de serviços e equipamentos e o aumento do preço do aço.
” O governo de Pernambuco também precisa assinar a retirada de uma linha de transmissão que passa no terreno e nós teremos que retirar uma linha de transporte de gás para a TermoPernambuco, que também passa por lá. Já acertamos um desvio com a Copergás e se tudo der certo poderemos antecipar a terraplenagem para 2007. ”