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Colheita pressiona cotações agrícolas

A evolução da colheita da atual safra brasileira de grãos, a 2003/04, deve manter pressionados as valores pagos aos agropecuaristas do país neste mês de março, observaram especialistas ouvidos ontem pelo Valor.

“Estaremos em plena colheita em março, e a tendência é de nova queda de preços no campo”, afirmou Nelson Batista Martin, diretor do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado.

Em fevereiro, o índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores paulistas, pesquisado pelo IEA, registrou variação negativa de 0,46%. Apesar de ter sido a segunda variação negativa seguida, em relação a janeiro houve ganho de 1,53 ponto percentual.

Tal ganho foi determinado pelo comportamento das cotações no grupo de produtos de origem animal, que subiu, em média, 3,51% no acumulado do mês.

Esta alta foi puxada pelos ovos, cujos preços pagos aos produtores subiram 37,9% em virtude de problemas de oferta causados por um surto de laringotraqueíte infecciosa em aves da região de Bastos, um dos principais pólos produtores de ovos do país.

No grupo de produtos de origem vegetal, em contrapartida, houve variação negativa média de 2,67% em fevereiro, e o peso desta baixa manteve o IPR no vermelho no mês. Os principais grãos de verão, milho e soja, registraram quedas em função do avanço da colheita – de 4,47% e 0,69%, respectivamente.

O feijão também recuou, 10%, mas o comportamento de suas cotações segue a preocupar os especialistas em inflação. No atacado paulista, de acordo com levantamento da MSConsult, houve valorização de 2,2% na semana entre os dias 19 e 26 de fevereiro na comparação com o intervalo imediatamente anterior.

Para Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa do índice de preços ao consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), o feijão está entre os poucos produtos agrícolas que insistem em puxar para cima os indicadores inflacionários.

“A recente valorização dos ovos também preocupa, mas, de um modo geral, os alimentos não são um temor do ponto de vista inflacionário neste mês de março”, afirmou Picchetti. (FL)