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CNTBio aprova cana não transgênica desenvolvida pela Embrapa

Obtidas com a técnica Crispr, são as primeiras canas editadas transgene-free do mundo, sem a inserção de DNA externos

CNTBio aprova cana não transgênica desenvolvida pela Embrapa

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) avaliou como não transgênicas duas variedades de cana-de-açúcar editadas geneticamente por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As plantas encontram-se agora em testes de campo. Segundo a instituição, são as primeiras canas editadas transgene-free do mundo, ou seja, sem a inserção de DNA externos, obtidas pela tecnologia Crispr-Cas9, que permitiu o silenciamento de genes da planta sem a incorporação de nenhuma sequência gênica advinda de outros organismos.

Utilizando a nova tecnologia, o agrônomo Hugo Molinari, líder da pesquisa na Embrapa Agroenergia, em Brasília, obteve duas variedades de cana com características de grande interesse para o setor sucroenergético. A primeira, batizada de Flex I, apresenta maior digestibilidade (capacidade de ser digerida) da parede celular. Esse traço proporciona melhor aproveitamento da biomassa da cana-de-açúcar, tanto para a geração de energia quanto para a nutrição animal; em outras palavras, a parede celular é mais fácil de ser quebrada, permitindo acesso mais fácil às reservas energéticas da planta.

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A outra, Flex II, tem maior concentração de sacarose, o que lhe confere maior teto produtivo. Em ambas as variedades foi suprimida a expressão dos genes BAHD1 e BAHD5, respectivamente, envolvidos na produção de aciltransferases. Essas enzimas, objeto de estudo de Molinari há 12 anos, são responsáveis pela formação da estrutura da parede celular da planta.

Vantagem econômica

A busca de uma nova variedade de planta melhorada geneticamente, mas sem a adição de genes exógenos, justifica-se economicamente. O processo de aprovação de uma variedade transgênica pela CTNBio requer uma série de testes de biossegurança que tornam o processo lento e oneroso. De acordo com Molinari, o custo estimado para o desenvolvimento de uma planta transgênica é de cerca de US$ 130 milhões, sendo que até 60% do custo final se destina às demandas das normas para liberação comercial. Para Molinari, a edição genômica chegou para revolucionar o setor, democratizando o uso da biotecnologia.

No exterior, alimentos editados geneticamente começam a chegar às prateleiras. Segundo o livro Tecnologia Crispr na edição genômica de plantas – Biotecnologia aplicada à agricultura (Embrapa, 2020), iniciou-se em 2019 a comercialização, nos Estados Unidos, de um óleo de soja com alto teor oleico produzido por meio do sistema Talen pela empresa de biotecnologia Calyxt.

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No Brasil, a primeira planta editada com Crispr foi uma variedade de milho produzida pela Corteva Agriscience, aprovada pela CTNBio como não transgênica em 2018.

Desde 2017, a Embrapa vem investindo em edição genômica para quatro culturas: cana-de açúcar, soja, milho e feijoeiro. Maior tolerância à seca e resistência a pragas, inativação de fatores antinutricionais e maior durabilidade são algumas características que o programa de melhoramento genético da instituição busca atingir.