A produção de cana-de-açúcar na safra 2024/25 poderá sofrer uma queda de até 9%, com uma estimativa de produção entre 590 e 610 milhões de toneladas. Esse cenário é consequência das adversidades climáticas que se intensificaram nos últimos meses. A análise foi apresentada por Fábio Marin, professor e pesquisador da ESALQ/USP, durante o 3º Congresso Técnico Global Cana, realizado no dia 5 de setembro, em Ribeirão Preto-SP, onde discutiu a Influência do clima na produção de cana-de-açúcar.
Marin detalhou como as condições climáticas desde outubro de 2023 têm moldado a safra atual, traçando um cenário desafiador para o próximo ciclo. “Em outubro, a umidade do solo ainda era razoável, mas a situação começou a piorar”, relatou. As chuvas em novembro ficaram abaixo do esperado e, em dezembro, não houve melhora significativa.
De acordo com pesquisador, o início de 2024 foi marcado por uma acentuada seca. “Em janeiro, o solo estava bastante seco, como mostra o mapa de umidade do solo, e as chuvas acumuladas no mês foram insuficientes para reverter essa condição”, explicou. O cenário se agravou em fevereiro e março, com pouca chuva, maior radiação solar e temperaturas elevadas, fatores que intensificaram a seca.
“Abril trouxe um leve alívio, mas insuficiente, e os meses seguintes (maio, junho, julho e agosto) continuaram a apresentar um quadro de déficit hídrico”, acrescentou.
As previsões climáticas para setembro são ainda mais preocupantes, com expectativa de pouca ou nenhuma chuva nos primeiros 15 dias e temperaturas elevadas, prolongando o impacto da seca. “Mesmo que ocorra uma frente fria entre 15 e 20 de setembro, chuvas isoladas não serão suficientes para melhorar o quadro atual”, alertou o pesquisador.
Apesar do cenário negativo, Marin mencionou que em outubro há uma pequena possibilidade de mudança nas condições climáticas, especialmente no estado de São Paulo, onde as chuvas podem se tornar mais estáveis na segunda quinzena do mês. No entanto, ele reforçou que será necessário um período prolongado de dias chuvosos para reverter os danos causados pela seca.
Em novembro, as previsões indicam uma melhora mais significativa, com expectativa de chuvas acumuladas entre 150 mm e 200 mm, o que pode beneficiar as áreas mais afetadas. “Embora a La Niña ainda não tenha se manifestado como previsto, há esperança de que dezembro traga mais chuvas, ajudando a melhorar as condições para a safra”, ponderou.
Contudo, o pesquisador adverte que os meses de janeiro e fevereiro de 2025 ainda não mostram uma tendência clara de recuperação, o que pode prolongar os desafios para os produtores.
Marin destacou que as projeções apresentadas consideram apenas as condições climáticas adversas e não incluem outros fatores agravantes, como queimadas e geadas. “Se incluirmos os efeitos de queimadas e geadas, a situação pode ser ainda mais crítica”, afirmou. A estimativa atual de redução de 9% na produção, portanto, pode aumentar conforme esses fatores forem mais bem avaliados.
O impacto das queimadas é especialmente preocupante, já que não foram consideradas na análise inicial. “As queimadas reduzem a capacidade produtiva e, em combinação com as temperaturas elevadas, podem resultar em perdas maiores do que o previsto”, ressaltou.