Mercado

Cinto sem furos

A última eleição presidencial evidenciou que a grande maioria do eleitorado brasileiro desejava mudanças nos rumos da economia brasileira. O ajuste fiscal e o controle da inflação, marcas da gestão anterior, já não atendiam mais os anseios de uma população interessada, principalmente, na retomada do crescimento econômico com ênfase no social. Passados um ano e quatro meses da administração Lula, o poder de compra dos brasileiros continua em queda livre.

Enquanto o Banco Central, o FMI e os EUA dizem que a situação econômica do País é “muito boa”, a população vem sentindo a olhos vistos o seu poder de compra sendo reduzido a cada dia. Um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas apontou que 33,15% dos brasileiros estão situados abaixo da linha de pobreza – ou seja, tem uma renda percapita inferior a R$ 79,00. Entre 1991 e 2000, a taxa de miséria na região metropolitana de São Paulo cresceu cerca de 50%.

Segundo pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo, que entrevistou mil consumidores, na Grande São Paulo, 40% destes disseram que as dividas com cheques pré-datados, cartões de crédito, carnês de lojas, prestação de carro ou imóvel e despesas com serviços públicos comprometem 30% da renda familiar. Outros 44,31% declaram que essas dívidas representam de 31% a 70% da renda. Para 13,55% dos entrevistados, o comprometimento já supera 70%. Ou seja, a classe média está empobrecendo no mesmo ritmo que as populações mais carentes.

Já a parcela mais rica da população aumentou sua participação na renda disponível no País, segundo o Atlas da Exclusão Social – onde cerca de 2,4% da população detêm 33% da renda disponível no Brasil. São cerca 1.162.164 famílias, sendo que 443.462 estão na cidade de São Paulo.

A gota d´água veio com o anúncio do aumento de R$ 20 no salário mínimo. Em suma, diante de todos os problemas uma parcela considerável da população terá de fazer malabarismos para viver com R$ 260 mensais. Com a justificativa de evitar um rombo maior na Previdência Social, o governo, como sempre, optou por uma solução conservadora. Pior que isso foi à solução simplista defendida por parte do governo de que para termos um aumento mais “robusto” deva-se desvincular o mínimo dos benefícios concedidos pela Previdência.

Isso sem falar na questão dos desempregados. Segundo a Fundação Seade/Dieese, a taxa de desemprego na região metropolitana subiu de 12,6% para 13,3%, no período de fevereiro a março deste ano. Ou seja, quase 2 milhões de cidadãos paulistanos estão sem emprego.

Não dá mais para apertar os cintos, não há furos! Mesmo seguindo a risca a cartilha do FMI, ancorada no ajuste fiscal e na manutenção de altas taxas de juros, a nossa economia continua vulnerável as oscilações do mercado externo e extremamente dependente de uma “nova onda” de otimismo em relação aos mercados emergentes.

Padecemos dos mesmos males de sempre: o aprofundamento da desigualdade social; o encarecimento crescente do custo de vida; a manutenção das altas taxas de juros; a falta de investimentos; o aumento do desemprego; o crescimento da economia informal. Estes são os gargalos de um círculo vicioso que parece não ter fim e que engessam as possibilidades de crescimento do País.

Tenho defendido, sistematicamente, um novo modelo econômico para o País, o que não é, como alguns desavisados podem pensar, partir para a irresponsabilidade fiscal.

Precisamos desonerar a produção, baixando os custos do investimento produtivo – para que a economia possa crescer com firmeza e ganhar poder de competição –, e diminuir os impostos das empresas exportadoras – responsáveis diretas pelo nosso superávit fiscal.

Uma política mais efetiva para redução da taxa de juros é imprescindível. Se é verdade que os juros recuaram de 25,5% para 16%, também é fato que o Brasil ainda detém uma das taxas mais altas do planeta.

Além disso, o governo precisa promover uma ampla reforma fiscal que tenha como objetivo principal corrigir as grandes desigualdades sociais e promover a inclusão dos trabalhadores informais na Previdência Social. O governo precisa utilizar alternativas que não se limitem a uma mera sanha arrecadatória, mas que promova a justiça social.

No âmbito externo, se faz necessária e urgente a revisão das metas estabelecidas com o FMI, principalmente, em se tratando da exclusão dos investimentos públicos nos cálculos do nosso superávit fiscal.

Não existem coelhos na cartola e tais mudanças requerem tempo. Mas precisamos mudar os alicerces do nosso modelo econômico e priorizar o desenvolvimento sustentável, responsável e focado na responsabilidade social. Mudar esta política econômica perversa que promove a exclusão e compromete o crescimento econômico do País.

Arnaldo Jardim é engenheiro civil e deputado estadual – [email protected].