Mercado

Cientistas de Engenharia Química obtêm biodiesel em laboratório

Produzir um combustível limpo utilizando matéria-prima regional é a meta que os cientistas do Laboratório de Combustíveis da Universidade Federal de Pernambuco querem atingir com o biodiesel. Feito a partir de plantas com frutos e sementes oleaginosas, como a mamona, o algodão e o dendê, esse combustível de obtenção relativamente simples é considerado de importância estratégica pelo Governo Federal. O biodiesel pode ser utilizado para movimentar caminhões, máquinas e geradores, poluindo menos o meio ambiente e economizando os gastos previstos na importação de petróleo e derivados. Em Pernambuco, a expectativa é de que ele seja utilizado para resolver problemas locais. Na termelétrica de Petrolina, por exemplo, a energia é produzida com a queima do diesel. O biodiesel pode ser usado em seu lugar, afirma o professor Luiz Stragevitch, coordenador do Laboratório de Combustíveis.

O trabalho com o biodiesel também tem uma contrapartida social, de acordo com o professor José Geraldo Pacheco, do Departamento de Engenharia Química: Esse é um grande incentivo para desenvolver a agricultura familiar, principalmente da mamona e do dendê, em que pequenos agricultores, com lotes de um até dez hectares, podem produzir essas variedades para tirar seu sustento.

Para fabricar o biocombustível, é utilizado um processo químico chamado transesterificação alcalina. Na etapa inicial são utilizados o óleo vegetal, álcool (metanol ou etanol, o álcool da cana) e catalisador, uma substância que acelera a reação química. Esses três elementos são aquecidos e a partir daí surgem dois compostos: o biodiesel e a glicerina, que não se misturam. Esta é separada como resíduo, mas o combustível ainda vai ter traços de glicerina, catalisador (como a soda cáustica) e álcool na sua composição. Para retirá-los, o biodiesel é lavado, ou seja, adiciona-se água à mistura. Como os dois são imiscíveis, em seguida a água tem de ser eliminada. Por fim, é feito um novo aquecimento para extinguir a umidade que resta.

Na UFPE, as pesquisas começaram há dois anos com o desenvolvimento, em conjunto com a Petrobras, de lubrificantes biodegradáveis a partir de óleos vegetais. A partir daí, a idéia de se estudar o biodiesel surgiu naturalmente. Com os lubrificantes, conseguimos criar produtos de maior valor agregado e viabilizar economicamente a produção do biodiesel, pois hoje em dia o custo de produção desse combustível é maior do que o do petróleo, aponta Stragevitch. Outra preocupação do pesquisador é com a qualidade: Se o produto cair em descrédito junto ao consumidor, acaba o programa, então temos que garantir a confiança nele.

Quando obtemos o biodiesel, ele é avaliado para ver se atendeu a todas as especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Dependendo dos resultados, o processo pode ser refeito para remover eventuais resíduos, explica Cláudio Vicente, mestrando em Engenharia Química. Segundo o estudante, os materiais que foram deixados para trás podem ser utilizados para outros fins: a glicerina, por exemplo, pode ser usada como meio de cultura de bactérias em laboratórios.

Para obter o biodiesel e aferir a qualidade do combustível, o laboratório conta com equipamentos num valor estimado de R$ 3 milhões. Estamos conseguindo manter o fluxo de recursos mais ou menos constante nos últimos dois anos. Além disso, a universidade está formando pessoal qualificado, com perspectivas muito boas de emprego, comemora Stragevitch.