Enquanto ex-ministro e candidato ressalta feitos, empresários criticam governo. Enquanto o ex-prefeito de Ribeirão Preto e ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci Filho lança sua Carta ao Povo de São Paulo, em que faz um balanço do que considera avanços e conquistas obtidos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a maioria dos empresários de Ribeirão Preto e região ouvidos por este jornal critica o governo petista e espera que o ex-governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin, vença a próxima eleição presidencial.
“O governo Lula foi uma decepção para a agricultura em geral, tanto que ele é criticado e visto pelos produtores rurais como a nova praga da agricultura”, diz Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), entidade com sede em Bebedouro (SP). Segundo Viegas, a insatisfação do setor com o governo Lula é evidente, “apesar da boa vontade do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que ficou isolado no governo”.
“O atual governo cometeu erros que trouxeram muitos prejuízos para a agricultura, como a divisão entre agricultura familiar e agronegócio, o que só serviu para dispersar recursos”, afirma Viegas. “Esperamos que, se eleito, Alckmin dê a devida atenção à agricultura. Não podemos aceitar a falta de apoio dos governantes a um dos setores mais importantes do País”, diz o presidente da Associtrus.
“Seja qual for o próximo governo, espero que trabalhe pela transparência da gestão pública, que não deixe o financismo tomar conta do governo e que não instrumentalize o poder”, sugere André Ali Mere, diretor regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e diretor da JP Indústria Farmacêutica, de Ribeirão Preto.
Sensibilidade de Lula
Para a União da Agroindústria Canavieira (Unica), “tanto Lula quanto o ex-governador paulista demonstraram, na prática, grande sensibilidade quanto ao papel estratégico do etanol combustível e do setor agroindustrial canavieiro para o País. Portanto, o que se espera de ambos é a continuidade do que eles tem defendido e praticado até o momento.” Por meio da assessoria, a Única lembra que Alckmin, quando governador de São Paulo, reduziu o ICMS do álcool de 25% para 12%. E afirma que “Lula tem sido o maior embaixador do etanol no mundo.”
Para Jairo Balbo, diretor das usinas Santo Antônio e São Francisco, de Sertãozinho, uma questão crucial a ser resolvida pelo próximo governo é a infra-estrutura. Ele acredita que a infra-estrutura nacional admita um crescimento econômico de apenas 3%. “Se o País crescer mais do que isso, haverá sérios problemas para escoar as safras agrícolas e até no abastecimento de energia elétrica”, diz.
Balbo afirma ainda que “o câmbio represado está dando um prejuízo extraordinário à agricultura.” Com exceção do setor de açúcar e álcool, cujos preços estão estáveis há alguns anos, a maioria dos segmentos da agricultura vive uma crise sem precedentes. “O alimento está barato, mas o preço não é justo”, diz Balbo.
O empresário sugere que o próximo governo crie linhas de financiamentos para estocagem do álcool – o que, aliás, já é previsto em lei. Trata-se, segundo Balbo, de um produto da cana-de-açúcar, que depende do clima e é sazonal. “Qualquer que seja o presidente eleito no Brasil, deverá ter coragem política, competência e principalmente desprendimento pessoal e político para processar uma verdadeira e ampla reforma administrativa, política, econômica, tributária, judiciária e de segurança. Porém, acima de tudo, deverá estar comprometido em liderar uma revolução em educação”, afirma o empresário Maurílio Biagi Filho, do setor de sucroalcooleiro.
Outro fator a ser considerado, segundo Biagi, “é a corrupção que sempre existiu e parece que sempre existirá. Seu combate tem que ser rigorosíssimo e a atual sensação de impunidade generalizada tem que ser eliminada de maneira exemplar e inquestionável”, afirma.
“Poderíamos usar a analogia do desempenho da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo com a atual situação do Estado grasileiro”, afirma Biagi. “É um Estado apático, voltado para si mesmo, sem objetivos definidos, sem liderança e sem um chefe que comande o País rumo à vitória.” Mas o empresário deixa claro que “esta situação não é só culpa do atual governo.”
Marcos Fava Neves, professor de Marketing & Estratégia da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP em Ribeirão Preto, acha que a prioridade dos futuros governantes deveria ser “uma maior valorização das cadeias produtivas de alimentos, fibras e bioenergia, que são o negócio mais importante do Brasil.”
José Batista Ferreira, diretor da regional norte do Sindicato da Indústria da Construção Civil (SindusCon-SP), diz que o setor produtivo da construção civil vem diminuição sua participação como empregador no País nos últimos 20 anos, devido à da falta de políticas públicas continuadas. Segundo Ferreira, a expectativa do setor com a vitória de Lula não é de retomada imediata da construção civil, uma vez que “o governo está desestruturado.” Uma eventual retomada do setor, segundo ele, “só depois Carnaval.”
Quanto a uma possível vitória de Alckmin, o presidente regional do SindusCon declara-se “otimista”. “Tendo como base a gestão pública de Alckmin nos últimos três anos no Estado de São Paulo, nos foi transmitida decisões pensadas, demonstrando interesse grande em acertar”, diz. “A expectativa é de que Alckmin mantenha o estilo e tenha rapidez na estruturação do governo, bem como a vontade de mudança nos aspectos não muito bons para o setor de construção civil.”
Augusto Balieiro, diretor da Multiplus Eventos, que realiza, entre outras exposições, a Fenasucro, em Sertãozinho, sugere aos próximos governantes que “vejam e entendam a região de Ribeirão Preto como de fato ela é: um pedaço de terra com vocação para o agronegócio e para a prestação de serviços, com alto potencial de desenvolvimento. Se as políticas públicas levarem isto em consideração, certamente teremos um longo ciclo de progresso com ganhos para toda a população.”
Há 20 anos trabalhando na organização de eventos setoriais e feiras industriais, Balieiro acha que as exposições facilitam a geração de negócios e de novas oportunidades de investimentos na região. “De nossa parte, temos certeza que poderemos dar uma grande contribuição ao desenvolvimento regional, promovendo mais e melhores feiras, encurtando assim a distância entre indústrias, seus fornecedores e clientes”, afirma.
Para o jornalista Gustavo Junqueira, sócio da Conceito Comunicação, assessoria de imprensa de Ribeirão Preto, os futuros governantes deveriam “facilitar as exportações com leis mais práticas e menos burocracia, entender nossa vocação para o agronegócio e adotar medidas estratégicas e conjuntas para seu impulso, o que irrigaria ainda mais nossa economia regional, gerando empregos e novas oportunidades de investimento”.
Ele acredita também que medidas simples nas áreas de segurança e saneamento dariam um novo status à qualidade de vida da região, diminuindo a violência e os problemas de saúde da população e valorizando o meio ambiente.
kicker: “Vejam e entendam a região de Ribeirão Preto como ela é: um pedaço de terra com vocação para o agronegócio e a prestação de serviços”