Particularmente volátil neste início de ano em Chicago, o mercado futuro da soja começa a dar sinais de que o ciclo de alta das cotações, que começou em janeiro de 2002, poderá perder fôlego nos próximos meses, de acordo com analistas.
A volatilidade em si não surpreende, até porque nesta época do ano a oferta dos Estados Unidos já está definida e a colheita na América do Sul ainda está em sua fase inicial – e EUA, Brasil e Argentina são os maiores produtores do grão no mundo.
Mas as fortes oscilações deste 2004 chamam a atenção, ainda que as crises de “vaca louca” e gripe das aves em território americano tenham colaborado para tal.
Levantamento do Valor Data mostra que, para os contratos negociados em Chicago para entrega em maio – que sinalizam preços para a comercialização da safra brasileira -, as variações, para cima ou para baixo, superaram 1% em 13 dos 28 pregões realizados em 2004 até ontem. Desses 13, em duas sessões a variação ficou entre 2% e 3%, em três entre 3% e 4% e em uma acima de 4%. No pregão de ontem, maio subiu 0,3%, para US$ 8,3850 por bushel.
Para Anderson Galvão, analista da Céleres, a volatilidade chama a atenção no Brasil e no exterior, vem sendo alvo de estudos e pode estar associada a uma tendência de saída de fundos de investimentos do mercado – que, contudo, ainda estão com posições compradas recordes, acima da marca de 70 mil contratos.
“Já começou a cair o número de negócios com contratos com vencimento em março e mesmo em maio. Na medida que cai o número de players, o mercado fica mais suscetível a grandes oscilações”, afirma o analista.
É claro que a ausência de notícias novas ligadas aos principais fundamentos do mercado – oferta e demanda – colaborou para fortalecer a gangorra, e nesse momento a questão é saber qual será o rumo das cotações quando ela se acalmar.
Galvão está no crescente grupo dos que acreditam que a tendência será baixista, uma vez que há mais soja na América do Sul, a área plantada nos EUA deve crescer na próxima safra e há dúvidas em relação ao comportamento da demanda no longo prazo. Mesmo no curto prazo a dúvida existe, já que ainda são incertas as consequências da descoberta de casos da gripe das aves no Estado de Delaware.
E o surgimento de um foco do vírus influenza influenza numa segunda propriedade de Delaware levou o governo a colocar em quarentena 80 fazendas e a ordenar o sacrifício de 72 mil frangos na terça-feira. O objetivo é evitar mais embargos às exportações americanas de frango.
Ontem, Hong Kong ampliou para todos os Estados Unidos o embargo ao frango vivo e a produtos de frango. Antes da descoberta do segundo foco em Delaware, a proibição estava restrita ao produto do Estado. A Indonésia também suspendeu as importações do país, e a Ucrânia anunciou embargo às compras de frango em Delaware. Brasil, China, Polônia, Japão, Malásia, Cingapura e Coréia do Sul já tinham proibiram as importações dos Estados Unidos. O embargo russo se restringe a Delaware.
Para Richard Lobb, porta-voz do Conselho Nacional de Avicultura, se a influenza não se espalhar, o impacto dos embargos pode ser pequeno. Mas Washington tem de mostrar ao mundo que a doença foi corretamente diagnosticada e que está sendo erradicada.
O Departamento de Agricultura de Delaware afirma que o vírus de influenza detectado nas duas fazendas é o H7, uma cepa branda, diferente do H5N1, que matou 19 pessoas no Vietnã e Tailândia.
Ontem, o Vietnã confirmou um novo caso de contaminação humana com a gripe das aves – um homem de 22 anos internado em Ho Chi Minh – , mas funcionários do governo disseram que nenhuma nova província registrou contaminação em aves. Desde segunda-feira, o número de províncias afetadas pela epidemia – 57 num total de 64 – não mudou, segundo o Ministério de Agricultura do país.
Mas Pascale Brudon, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Hanói, afirmou que é muito cedo para dizer que doença está perdendo força. “Ainda temos um grande número de focos e casos humanos todo dia. Estamos fazendo progresso, mas a epidemia ainda não foi contida”, afirmou Brudon. (Com Dow Jones Newswires)