Líderes de uma delegação de empresários chineses confirmaram ontem, em Curitiba, a disposição dos importadores de soja em montar estruturas em portos do Brasil, entrar no comércio internacional de grãos e tomar uma fatia do mercado exportador, hoje dominado por grandes multinacionais.
“Queremos negociar direto com produtores brasileiros, eliminando o exportador”, disse Niu Bingyi, da Câmara de Comércio da Província de Henan –região central da China.
Segundo Bingyi, os importadores chineses “enfrentam algumas dificuldades ao comprar das multinacionais, devido aos preços agregados aos produtos por elas”. Ele também disse considerar a soja brasileira melhor que a argentina e a americana, “por produzir mais óleo e conter mais proteína”.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, disse que a possibilidade de os empresários chineses investirem na importação direta do Brasil não sinaliza para um confronto com as multinacionais da área. “As grandes tradings dominam um mercado gigantesco, agregam valor e tecnologia aos produtos, mas o comércio mundial de soja é grande o suficiente e há espaço para todos.”
A definição dos investimentos, segundo ele, se dará em alguns meses. Uma das propostas é a construção de estruturas de armazenamento e embarque de grãos no porto de Paranaguá. O financiamento de insumos e defensivos usados por agricultores brasileiros também é estudado.
A intenção dos chineses em ampliar seu poder de compra não é novidade. O assunto ganhou força no mês passado, quando o governo chinês proibiu o desembarque de navios com soja brasileira contaminada por fungicida. As maiores tradings puxaram a lista das 23 empresas impedidas temporariamente de exportar para a China. ADM, Bunge, Cargill e Dreyfuss dominam de 60% a 80% do mercado exportador brasileiro de grãos.
A delegação de Henan é composta de sete presidentes e cinco executivos das maiores empresas moageiras de soja e produtoras de óleo e de carne da província.