A decisão da China de reduzir a tarifa sobre as importações de álcool não deve provocar um aumento imediato da compra de etanol por parte do gigante asiático. Apesar de a redução do imposto anunciada na última semana, de 30% para 5%, poder se aplicar ao biocombustível brasileiro, especialistas consideram que ainda não há capacidade chinesa para misturar o biocombustível à gasolina em grande quantidade. Ainda assim, a medida abre as portas para, no futuro, o comércio do produto entre os dois países ser incrementado.
“A redução pode levar a importações de uma maneira indireta, o que será a tendência futura, mas não esperamos que as importações aconteçam dentro de um curto período de tempo”, afirmou um trader consultado pela agência Reuters. Atualmente, o governo chinês permite o uso de gasolina misturada com etanol apenas em cerca de um terço das províncias do país. O Brasil, maior exportador mundial d! e etanol, tem pressionado a China para importar o biocombustível como um complemento à produção limitada do país asiático.
Outro trader afirmou que a redução da tarifa, parte do compromisso de Pequim de reduzir as taxas gerais de importação como membro da Organização Mundial de Comércio, não vai resultar em grandes importações já nos próximos meses. “A redução pode levar a importações de uma maneira indireta, o que será a tendência futura. Mas não esperamos que aconteçam dentro de um curto período de tempo”.
Para os especialistas consultados, é necessário que os compradores construam instalações de mistura, atualmente sob controle de empresas estatais. “A tarifa baixa parece tornar as importações viáveis. Mas estamos estudando se há outras restrições”, disse um trader.
Além disso, a China não permitirá nenhuma grande expansão de produção de etanol à base de grãos devido a preocupações com a segurança alimentar. A expansão da produção de biocombustível util! izando outras matérias-primas é restrita devido à quantidade limitada de terras e de recursos hídricos.
O governo chinês quer misturar 2 milhões de toneladas de etanol na gasolina até 2010 e 10 milhões até 2020, como parte de esforços para ajudar a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, mas autoridades da indústria duvidam que a meta poderá ser cumprida, já que as atuais instalações só podem produzir cerca de 1,35 milhão de toneladas.
ESTOQUES BAIXOS. Mesmo se a China estivesse planejando aumentar as importações de etanol num curto período de tempo, o Brasil não teria condições de atender os pedidos. A safra de cana está acabando no Centro-Sul e os estoques do combustível estão apertados atualmente. De todas as formas, a notícia é vista como positiva num período mais longo, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “A China tem um baita mercado; eles não têm como responder ao aumento da demanda e estão abrindo uma janela, o que é altamente positi! vo”, disse Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica.
Além da falta de disponibilidade, os atuais preços do etanol no mercado brasileiro, acima da média, e o câmbio valorizado frente ao dólar tornariam inviáveis embarques nos próximos meses. “Mas tudo é possível de ser alcançado, especialmente se houver interesse em contratos de longo prazo, preços pré-fixados”, disse Pádua, acrescentando que a abertura da China poderia estimular investimentos no setor. (Com agências)