Se o já formidável crescimento econômico da China e da Índia continuar no ritmo dos últimos anos e começar a consumir os recursos disponíveis e a produzir poluição tanto quanto os Estados Unidos — num nível per capita — “serão necessários dois planetas Terra somente para manter aquelas duas economias”. Essa é a conclusão, em tom de alerta, de um extenso estudo realizado pelo Worldwatch Institute, um prestigiado centro independente de pesquisas ambientais sediado em Washington, divulgado ontem à noite.
O documento de 244 páginas, intitulado “A Situação do Mundo – 2006”, diz que o impressionante crescimento da China e da Índia apresenta hoje uma das ameaças mais graves ao mundo, e ao mesmo tempo, uma das maiores oportunidades. Tudo vai depender do caminho a ser tomado pelas duas nações emergentes.
“As escolhas que esses países fizerem nos próximos anos levarão o mundo a um futuro acossado por instabilidade ecológica e política, ou a um caminho de desenvolvimento baseado em tecnologias eficientes e uma melhor administração dos recursos”, diz um trecho.
— O crescimento da China já tem causado vastas implicações, afetando tudo; desde as taxas de juros nos Estados Unidos ao preço da soja no Brasil e às leis trabalhistas na Alemanha. A saída para encarar problemas globais depende de que todas as nações trabalhem juntas em todos os níveis — disse Christopher Flavin, presidente do Worldwatch Institute.
Estudo cita o Brasil como exemplo na área de energia
A crescente demanda por energia, alimentos e matérias-primas pelos 2,5 bilhões de habitantes da China e da Índia já começa a comprimir os recursos globais. E isso, segundo Flavin, está evidente “em manifestações violentas por causa do aumento do petróleo na Indonésia, a crescente pressão sobre as florestas e a pescaria no Brasil e a perda de empregos no setor de manufaturas na América Central”.
Só no ano passado a China usou 26% do aço produzido no mundo, 32% do arroz e 47% do cimento. E isso considerando que o seu consumo de recursos per capita ainda é baixo. A China dispõe de apenas 8% da água fresca do mundo para abastecer 22% da população do planeta. Na Índia a demanda urbana por água deverá duplicar, e a industrial, triplicar até 2025.
“Está na hora de se encontrar um novo caminho de industrialização com base na tecnologia, baixo consumo de recursos, baixa poluição ambiental e ótima alocação de recursos humanos”, escreveu Sunita Narain, diretor do Centro para a Ciência e o Meio Ambiente da Índia, na introdução do informe.
O Brasil é mencionado extensamente no estudo como um exemplo, em especial na área de energia, devido à opção pelo etanol e o biodiesel. O Worldwatch Institute diz que o uso desses combustíveis não se tem expandido como devia porque eles têm sofrido altas tarifas de importação. O documento cita, em tom positivo, o fato de o Brasil estar se preparando para exportações em larga escala. E lembra uma frase que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse em junho passado ao primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi: “Não queremos vender litros de etanol: queremos vender rios de etanol”.