O preço do álcool está caindo forte. Nestes meses, costuma mesmo ser assim, afinal é época da colheita da safra de cana. Mas ela veio bem maior este ano. Além disso, a demanda americana, que foi alta em 2006, incentivando as exportações, está menor. Porém isso não está preocupando os produtores de álcool, que continuam otimistas. A expectativa é de que, nos próximos 15 anos, a produção do combustível triplique. Nas contas do especialista Adriano Pires, do CBIE, o preço do álcool nesta safra já caiu, em média, 30% desde o seu ponto máximo.
A queda ainda não foi sentida na bomba porque, como se sabe, o distribuidor tenta adiar ao máximo esse repasse. Por enquanto, só caiu em São Paulo.
A produção de álcool deve aumentar este ano de 16 bilhões de litros para 18,5 bilhões de litros, segundo prevê Adriano. Já Fabio Silveira, da RC Consultores, num estudo sobre o futuro do combustível, calcula que, nesta safra, serão 17,7 bilhões de litros. Esse crescimento é resultado do aumento da área plantada e da produtividade; não se deixou de produzir açúcar para fazer álcool.
Atualmente, cerca de 53% vão para o álcool.
No ano passado, a determinação americana de substituir o poluente MTBE pelo etanol fez toda a diferença para a formação de preço e venda de álcool do Brasil.
Como havia problemas de produção e de logística lá para atender ao aumento da demanda, acabou sendo necessário importar bastante.
Para o Brasil, também valia a pena, apesar das enormes taxas de importação cobradas.
Nos três primeiros meses de 2007, as exportações de álcool aumentaram 56% em volume em relação ao mesmo período do ano anterior.
Como o preço para exportação estava subindo também, a receita dobrou.
A participação das importações americanas, neste primeiro trimestre, foi menor: compraram 29% do total de álcool exportado pelo Brasil.
No ano passado, foram 52% e, em 2005, apenas 10%. Por enquanto, o Japão é ainda um mercado nascente e, na Europa, com mais automóveis a diesel, a demanda forte é por biodiesel. Assim, o mercado com futuro promissor é, por ora, o americano mesmo.
— Em 2006, o Brasil exportou 400 milhões de litros para os Estados Unidos via Caribe e 1,7 bilhão diretamente para os EUA. Este ano, acredito que serão exportados, no máximo, 1,5 bilhão de litros no total, e a maior parte deve ir via Caribe — calcula Adriano.
Esse caminho tortuoso que o álcool tem que fazer até chegar nos Estados Unidos — passando pelo Caribe — é para driblar impostos proibitivos. Os exportadores brasileiros mandam álcool hidratado para os países do Caribe. Lá, ele é transformado em anidro e acaba entrando em terras americanas com menos tarifas.
Mas, com os EUA importando menos e com aumento de oferta, a tendência não é o preço cair muito? Adriano acredita que não, por causa da demanda interna.
Atualmente, em 95% dos novos carros produzidos pode-se usar álcool.
Fabio Silveira afirma que o etanol é a grande oportunidade para o Brasil. Em 15 anos, prevê, a produção deve triplicar, com 65% do álcool destinados ao mercado interno e 35% a Estados Unidos e Japão. Nesse cenário, o açúcar perderia espaço, ficando com 38% da produção da cana, e o plantio ocuparia 15,5 milhões de hectares, não existindo, na visão dele, risco de comprometimento da oferta de alimentos.
Os cenários traçados para o etanol são tão positivos que hoje não há mais usina produtiva pronta para comprar.
Mas, apesar da empolgação, é bom essa indústria — com séculos de maus antecedentes — tomar muito cuidado.
Os estrangeiros estão atentos e só vão passar realmente a consumir álcool se, de fato, ele representar mais cuidado com o meio ambiente. Imperialismo brasileiro O presidente Lula, esta semana, disse que antes acreditava que o imperialismo americano era responsável até por seu analfabetismo, mas que agora não acha mais isso. Alguns países sul-americanos ainda adoram — e adotam — o discurso que culpa o imperialismo por todos os seus males. Só que, para vários, como se viu no episódio do gás na Bolívia, o grande imperialista não são os Estados Unidos e, sim… o próprio Brasil. Os números de trocas comerciais abaixo contam parte dessa história. Um detalhe: a Bolívia, por causa do gás, acaba sendo a única que exporta mais que importa do Brasil.