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Cenário XXI - Aviões mais verdes

Pesquisadores da Unicamp desenvolvem um novo combustível para a aviação a partir de óleos vegetais. O bioquerosene, além de ser renovável, é produzido a partir de fontes renováveis encontradas no País. O custo no novo produto é baixo e o grau de pureza também supera o dos combustíveis convencionais.

A nova tecnologia foi desenvolvida pelos professores Rubens Maciel Filho e Maria Regina Wolf Maciel, e pelos pesquisadores César Benedito Batistella e Nívea de Lima da Silva na Faculdade de Engenharia Química. (FEQ) da Unicamp. O trabalho é resultado de pesquisas realizadas há alguns anos na universidade. Mas, segundo Maciel Filho, os últimos dois anos foram definitivos para os resultados desse trabalho. “Conseguimos agora um produto 99,9% puro em querosene. Com essa purificação elevada, ele pode ser usado em altas altitudes, o que muitas vezes era uma limitação em biocombustíveis para uso em aviões”, afirmou o pesquisador.

Segundo Maciel Filho, a produção de um biocombustível a partir de óleos vegetais é conhecida. No entanto, o bioquerosene vem com algumas inovações tanto na qualidade e na possibilidade de uso em produtos aeronáuticos dentro dos padrões mais exigentes, quanto no baixo custo. “Cada litro de produção do bioquerose tem um custo que não chega a R$0,05. E apesar de já existirem biocombustíveis feitos a partir de óleos vegetais, o bioquerosene tem um grau de pureza inédito”, disse.

Para Maciel o produto agrega inúmeras vantagens e deve ser a alternativa energética mais viável. “Além de ser mais barata, essa alternativa energética é ambientalmente mais adequada, pois é menos poluente uma vez que não é emissora de enxofre, de compostos nitrogenados, de hidrocarbonetos ou de materiais particulados. E ainda tem a vantagem de ser um produto produzido com matérias-primas e tecnologia brasileiras.”

A equipe da FEQ da Unicamp não só desenvolveu a tecnologia como também depositou patente, por meio da Inova/Unicamp, para um processo de produção do biocombustível. O próximo passo agora é o estudo da produção em escala industrial. O grupo pretende repassar a tecnologia para empresas interessadas em produzir o bioquerosene.

Produção é dividida em duas etapas

O processo de produção do bioquerosene foi realizado em duas etapas, uma delas a responsável pelo diferencial do novo combustível. Na primeira etapa o óleo vegetal foi extraído da planta e refinado, para a retirada de impurezas. Depois foi colocado em um reator, junto com o catalisador e uma quantidade pré-determinada de álcool, no caso etanol. O etanol foi o álcool escolhido pela equipe para o processo por ter baixa massa molar e ser um reagente não-agressivo e renovável. Ele reage com o ácido graxo, dando origem ao bioquerosene. “O processo gera como subprodutos glicerina, água e o que sobra do etanol não consumido nas reações”, disse Rubens Maciel Filho, um dos pesquisadores. Ele explicou também que para se obter alta conversão de óleo vegetal em bioquerosene e maximizar a produção no menor tempo possível é preciso saber as quantidades exatas a serem usadas de cada componente da reação e definir as condições apropriadas de operação. Na segunda etapa é onde está a inovação do processo, pois é o momento em que se separa todos os produtos da reação, ou seja, o isolamento do éster, do catalisador, da água e da glicerina. “O isolamento é feito em uma unidade de separação intensificada, em condições de temperatura e pressão que possibilitam a obtenção do bioquerosene de forma economicamente viável”, afirmou Maciel Filho. (LA)