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Ceará vai produzir diesel de mamona

Governo e indústrias vão estimular o cultivo no estado. Meta é plantar 70 mil hectares até 2007. Iniciativa privada e instituições públicas estabeleceram ontem, em Fortaleza (Ceará), parceria para fomentar o cultivo da mamona para a produção de biodiesel. Pelo protocolo firmado, até 2007 serão cultivados 70 mil hectares da lavoura no estado, que podem render 28,16 milhões de litros do combustível – considerado correto do ponto de vista ecológico. A patente mundial do biodiesel de mamona, hoje expirada, é do pesquisador brasileiro Expedito Parente.

O projeto estabelece já para o próximo ano a implementação de 10 mil hectares com mamona. O cultivo será feito por cerca de 6 mil famílias de pequenos agricultores – que vão plantar a mamona em roças de 1 a 3 hectares, consorciada com o feijão. Porém, segundo o secretário estadual da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará, Carlos Matos, essa área pode dobrar em função do entusiasmo de grandes investidores com a produção do biodiesel.

Empresas como a termelétrica Enguia, com parques instalados no Ceará, Piauí e Bahia, cuja capacidade de geração chega a 241 MegaWatts de energia, são parceiras no projeto da mamona. “Temos 40 mil hectares de terra disponíveis no Piauí e pretendemos adquirir outros 120 mil hectares no Ceará e colocar essas áreas a serviço da produção da mamona”, afirma Nelson Cortês da Silveira, representante da companhia.

A Sant´ana Sementes, do Rio Grande do Norte, também está apostando no potencial da mamona. Além de fornecer tecnologia para o cultivo, assinou protocolo para adquirir pelo preço mínimo de R$ 0,54 o quilo do produto. “Com o insumo vamos fabricar óleo ou combustível (biodiesel)”, observa o diretor Rodrigo Diniz de Mello. Segundo ele, uma tonelada de óleo custa hoje US$ 850. A mamona tem catalogadas mais de 700 aplicações na indústria química.

Ganho social

O projeto de conversão da mamona em biodiesel ou outros produtos também casa com os interesses das instituições públicas cearenses. Isso porque a planta requer pouca água (mínimo de 300 milímetros por safra), e terras altas, condições encontradas justamente nas áreas consideradas mais estéreis do semi-árido e onde predominam os piores indicadores sociais. A previsão é de que a mamona seja cultivada em 66 dos 184 municípios do estado.

“A mamona é uma alternativa real para mudar as condições de vida de populações muito pobres”, avalia o governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB). De acordo com cálculos da Secretaria da Agricultura e Pecuária (Seagri), o cultivo de 2 hectares de mamona pode resultar em renda líquida de R$ 800 mensais – considerando um produtividade de 990 quilos por hectare. O faturamento não inclui o plantio consorciado do feijão.

De acordo com Valdenor Feitosa, gerente do projeto da mamona junto à Secretaria da Agricultura e Pecuária, a expectativa do governo é gerar com a atividade cerca de 3 mil empregos diretos nos próximos anos, totalizando 21 mil postos de trabalho até 2007. Levando em conta que a mamona tende a ser cultivada no sistema de agricultura familiar, os benefícios podem se irradiar para um universo de até 409,5 mil pessoas.

“Isso de maneira sustentável, já que haverá tecnologia e garantia de compra da produção”, diz Valdenor Feitosa. O Ceará planta atualmente 1,8 mil hectare com mamona, mas na década de 70 a lavoura chegou a 60 mil hectares.

Óleo sintético

A decadência da cultura é atribuída, principalmente, à oscilação do preço do produto, à medida que a indústria passou a trabalhar com óleos sintéticos. A aposta agora é que o biodiesel seja favorecido em função do apelo ecológico.

Atualmente, a tecnologia concebida no Ceará é empregada para obtenção de biodiesel – a partir da colza -, em larga escala na Alemanha. Os Estados Unidos e Europa já demandam 2 bilhões de litros do produto por ano. Por ser obtido de fonte renovável, o biodiesel pode entrar na negociação de emissão de carbono (protocolo de Kioto).

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