Fortaleza, Projeto inclui a renovação inicial de 20% da área de cultivo, com novas variedades de cana. O Renovacana Cariri, projeto implementado pela Secretaria de Agricultura e Pecuária do Ceará (Seagri) em parceria com produtores de cana-de-açúcar e prefeituras dos 13 municípios da região sul do Estado, vai envolver recursos de R$ 4,2 milhões aplicados em assistência técnica, agronômica, gerencial e comercial, consultoria especializada e aquisição de cana semente.
O secretário Carlos Matos, titular da Seagri, diz que a idéia de promover a revitalização, modernização e a sustentabilidade do setor inclui a renovação inicial de 20% da área de cultivo, com novas variedades de cana. Num primeiro momento, a estratégia é manter os 80% restantes como garantia de renda do produtor, substituindo essas áreas gradativamente ao longo do projeto.
Ao aderir ao programa o agricultor assume o compromisso de utilizar sistemas de irrigação, adubação do solo, com base em análise laboratorial, manejo da cultura, além de realizar controle biológico da broca, o inseto da cana, e colheita ambiental correta, sem a utilização de queimadas.
O governo fornecerá 2,4 mil toneladas de cana semente de duas novas variedades de alta produtividade já testadas pelas principais usinas do Brasil, que apresentam teor de açúcar de 24% , diante dos 14% a 17% registrados hoje na lavoura de cana-de-açúcar da região. O assessor técnico da Seagri, Francisco Zuza, diz que a variedade cultivada no Cariri, tem cerca de 20 anos, quando o recomendado seria a renovação do canavial a cada sete anos.
Maior produtividade
A Seagri trabalha com a meta de atingir produção de 102 toneladas por hectare, a partir das novas variedades, diante das 43 toneladas por hectare, obtidas hoje. Esse avanço representaria aumento de 260,74% da produção de cana-de-açúcar no Estado, que passaria de 145,8 mil para 526 mil toneladas de oferta para atender a demanda da indústria.
As áreas cultivadas com as antigas variedades também entram no processo, com outro pacote tecnológico envolvendo mudanças de manejo, com adubação, irrigação, que deverá assegurar aumento de produção de 43 toneladas para 65 toneladas por hectare. “Com isso, será possível melhorar o rendimento do produtor”, afirma.
Pela proposta, sete profissionais realizam o trabalho de assistência técnica, enquanto as prefeituras ficam encarregadas de apoiar na mecanização para implantar novas variedades. Cabe aos produtores arcar com o restante dos custos. “O Banco do Brasil e o Banco do Nordeste do Brasil têm disponibilidade de recursos para financiamento”, informa Zuza. O projeto envolve a Associação dos Produtores de Cana do Cariri.
Nesta primeira etapa, prevista para iniciar até novembro, contempla a distribuição das sementes a 40 produtores dos municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha. Sete meses depois, a cana recebida deverá ser devolvida na mesma quantidade a novos integrantes do projeto, ampliando a cadeia de plantio.
O sistema vai perdurar nos próximos 4 anos, quando toda a área de cultivo de cana-de-açúcar da região esteja renovada, alcançando a média de 100 toneladas por hectare. “O Renovacana pretende tornar novamente rentável o agronegócio da cana-de-açúcar para os municípios do Cariri”, afirma Zuza, ao apontar que a região concentra 650 produtores.
A Seagri projeta que a área plantada salte de 3,3 mil para 5 mil hectares no período. Dependendo o andamento do projeto e do interesse dos produtores a área cultivada poderá atingir de 7 mil a 8 mil hectares, estima Zuza. “Com as novas variedade e mudanças no sistema de adubação, queremos passar das 4 toneladas de açúcar produzido por tonelada de cana, para 12 toneladas”, diz.
A proposta embute apoio tecnológico para a modernização do setor industrial, com a criação de uma linha de cachaças especiais (hoje são 5 tipos fabricados), além de garantir melhoria do padrão da rapadura e incremento de produção de açúcar e álcool.
“Com tecnologia, incentivo e assistência técnica, vamos melhorar todo o parque industrial, criando um turismo doce no Cariri, numa visão moderna, com produtos de qualidade e de alto valor agregado”, afirma Zuza. O Engenho Padre Cícero, em Barbalha, comandado pelo produtor Antonio Sampaio, já recebe por semana cerca de 50 ônibus de romeiros nordestinos, em busca das diferentes versões de rapadura. Zuza adianta que o setor também atrai investidores, a exemplo de um empresário de Cabo Verde, que vai instalar uma destilaria para a produção de aguardente especial, voltada a exportação, no município do Crato.