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Carro transforma álcool em hidrogênio

Um carro a álcool. Mas um modelo que é até cinco vezes mais econômico e que produz menos de um terço do gás carbônico dos velhos modelos. Esse veículo está sendo projetado no Brasil. O segredo tecnológico: utilizar o hidrogênio como intermediário.

A equipe de Ennio Peres da Silva, do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp, em parceria com o Ceneh (Centro Nacional de Referência em Energia do Hidrogênio), projetou um aparelho que converte álcool comum (etanol) em hidrogênio. O gás é um dos combustíveis de maior potencial para a indústria automotiva, seja pelo alto aproveitamento da energia obtida pela sua queima, seja pelo fato de que ela tem apenas um subproduto, a água, que não é poluente. “O projeto é único no Brasil”, disse Silva à Folha.

O aparelho da Unicamp será apresentado no 2º Salão de Inovação Tecnológica, que acontece a partir de hoje até o dia 2 de agosto no Expo Center Norte, em São Paulo. O evento, promovido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, é aberto ao público.

Vantagens

O hidrogênio tem sido utilizado nas chamadas células de combustível, que, de forma mais eficiente que os motores a combustão, transformam as moléculas do gás na energia elétrica que pode mover, por exemplo, um motor de carro. As células de combustível já estão no mercado e têm sido base para diversos veículos que usam o hidrogênio como fonte de energia.

Com seu aparelho, um reformador (conversor) de etanol, Silva cria a possibilidade da produção de hidrogênio a partir do álcool, dentro do próprio carro. Com adaptações de tamanho, o reformador poderá passar a integrar o veículo propriamente dito, um projeto chamado de “Vega 3” que só estará pronto em 2004, segundo Silva. De qualquer forma, o reformador já resolve dois problemas da área.

Por um lado, converter o etanol no lugar de utilizar diretamente o hidrogênio é vantajoso, pois, para dar boa autonomia a um carro movido por uma célula de combustível, o estoque de hidrogênio a ser armazenado no automóvel tem de ser muito grande. No modelo de Silva, o etanol é estocado em um tanque de álcool comum, e o hidrogênio é produzido na medida em que se precise dele. Em termos comparativos, um tanque de 50 litros de álcool é equivalente a 12 cilindros de gás -mais do que carregam hoje os protótipos de carro a hidrogênio que usam cilindros.

Por outro lado, o processo também é melhor que a queima do álcool em motores de combustão interna, por não depender de um intermediário mecânico (no caso, o movimento de um pistão). Isso se traduz em eficiência na geração de energia até cinco vezes maior num motor a combustão. Além disso, há pouca ou nenhuma emissão de poluentes como óxidos de enxofre, nitrogênio e compostos orgânicos particulados.

Além de todas essas vantagens, ainda há a redução do custo do hidrogênio, hoje produzido a partir de combustíveis fósseis.

“O reformador pode ser usado não só em automóveis, mas como fonte de energia elétrica para qualquer processo. Estamos estudando, por exemplo, o fornecimento de energia para o processamento de minérios na indústria siderúrgica”, explica Cristiano Pinto, pesquisador do Ceneh. Já existem no exterior modelos de aparelhos “conversores” de outros combustíveis, como o metanol, em hidrogênio. Reformadores de etanol, no entanto, são novidade, e sua importância é grande no Brasil, maior produtor de etanol do mundo.

Ainda assim, há alguns pontos da tecnologia que ainda têm de ser aperfeiçoados. Um deles é que o aparelho precisa de energia elétrica para aquecer o álcool em seu reator. O próximo passo da pesquisa de Silva é converter a queima convencional de parte do etanol em energia para o resto do álcool reagir e virar hidrogênio, resolvendo, assim, o problema.

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