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Carro a álcool afeta mercado mundial de açúcar

Nas preferências dos brasileiros na hora de comprar automóveis pode estar a chave para entender o cenário do mercado global de açúcar. Conhecidos por seu amor pela velocidade, os motoristas brasileiros estão comprando mais carros movidos a etanol, produto derivado da cana-de-açúcar.

Lançados no Brasil em março de 2003, os carros bicombustíveis, que consomem tanto gasolina quanto álcool, responderam por cerca de 30% das vendas de carros novos neste outono no maior mercado de veículos da América Latina. Isso levou a um salto nos investimentos no Brasil para o aumento da produção do álcool.

A Única, a federação de produção de cana-de-açúcar de São Paulo, estima que até US$ 3 bilhões serão investidos no setor para incrementar a produção de álcool em 40%, a partir da produção atual de cerca de 15 bilhões de litros.

Martin Todd, diretor da LMC International, empresa de análise do setor agrícola, diz que a demanda brasileira pelo etanol deverá impulsionar o crescimento médio da demanda global pelo açúcar em pelo menos 2,5% ao ano até 2015. Esse aumento ficaria acima da taxa média de crescimento anual entre 1991 e 2003, que foi de 1,5% ao ano. No entanto, estaria ainda abaixo do índice de crescimento de cerca de 3% registrado entre 1980 a 1991.

Nos anos 80, o Brasil lançou a sua primeira linha de carros movidos a álcool, mas uma crise na oferta do etanol no final dos anos 80 reduziu a demanda futura até o ano passado. Foi quando surgiram no mercado os automóveis bicombustíveis, que tanto podem funcionar com 100% de álcool, quanto com uma mistura de álcool e gasolina.

A demanda mundial pelo álcool poderá aumentar ainda mais, com o início do programa de biocombustível da Colômbia. A Austrália, a União Européia e a Tailândia estão adotando novos programas de combustível, baseados na utilização de uma mistura de combustíveis fabricados a partir da cana-de-açúcar, da beterraba e do milho, disse Todd durante a conferência da Organização Internacional do Açúcar, realizada nesta semana em Londres.

O Brasil deve atender a esta demanda prevista com a ampliação do cultivo da cana, ampliando a sua liderança como maior produtor mundial de açúcar em relação aos seus rivais mais próximos, a Tailândia, a Índia e a Austrália.

Jonathan Drake, diretor do departamento de comércio mundial de açúcar da Cargill, o conglomerado norte-americano de produtos agrícolas e alimentícios, diz que o Brasil responderá por cerca de 60% do comércio mundial de açúcar nos próximos dez anos e que as exportações brasileiras do produto aumentarão bastante. Segundo ele, as exportações brasileiras deverão chegar a um pico de 37,1 milhões de toneladas em 2014, o que representa o triplo do volume atual exportado.

Drake disse que o Brasil deve apresentar uma média de crescimento anual da produção de açúcar de 6,2% durante os próximos dez anos, atingindo um patamar de quase 49 milhões de toneladas em 2014, dos quais três quartos serão destinados à exportação. A Tailândia, o segundo maior exportador de açúcar, deve exportar 6,7 milhões de toneladas.

Segundo a Cargill, a demanda global pelo açúcar deve chegar a 186,8 milhões de toneladas em dez anos, em relação às 146 milhões de toneladas deste ano. O executivo da Cargill afirmou que pode haver problemas de oferta caso as safras brasileiras de cana diminuam drasticamente devido a fatores climáticos adversos, já que o mundo depende muito do açúcar brasileiro.

“Quem vai preencher a lacuna, caso o Brasil tenha uma safra ruim?”, pergunta Drake.

Nenhuma projeção sobre o mercado do produto pode ignorar a China e a Índia. Esta última é o maior consumidor mundial de açúcar, uma posição que deve manter, enquanto a China, atualmente o terceiro maior consumidor mundial, deve se tornar o líder mundial nos próximos dez anos, à medida que a sua taxa de consumo de açúcar crescer a uma taxa média de mais de 4% ao ano no decorrer dos próximos dez anos.

O mercado futuro do açúcar refinado em Londres registrou um valor máximo de US$ 257 por tonelada na quinta-feira (25/11), ficando a apenas um dólar do valor registrado na semana passada, que foi o mais alto dos últimos três anos. O mercado futuro aumentou em quase 50% nos últimos 12 meses, devido à expectativa generalizada de um déficit no mercado internacional de açúcar.

Tradução: Danilo Fonseca