Mercado

Cargill pode inundar EUA com álcool brasileiro

Os plantadores de soja e milho do estado de Minnesota começam a temer a concorrência do Brasil. Mas o maior responsável pela concorrência é, na verdade, uma multinacional americana, a Cargill Inc. Mês passado, a empresa revelou planos de importar etanol do Brasil por meio de El Salvador, o que lhe garantiria isenção de taxas.

A Cargill é a maior empresa de Minnesota e a maior corporação privada dos Estados Unidos, com receita anual de US$ 60 bilhões. Mas alguns grupos, como a Associação de Plantadores de Milho de Minnesota, acham que a Cargill está expandindo suas atividades no Brasil às custas deles.

— Não tenho nada contra meus colegas no Brasil, mas a maneira como a Cargill fez isso foi dissimulada e enganosa, mesmo que tenha sido legal — disse Sever Peterson, que planta soja e milho nos arredores da cidade de Mineápolis.

Fábrica em El Salvador evitaria impostos

A Cargill pretende importar etanol — feito a partir da cana-de-açúcar no Brasil e do milho nos EUA — por El Salvador. A empresa faria uma fábrica naquele país para converter o etanol brasileiro em combustível para os carros americanos.

Com isso, a Cargill evitaria as proibitivas tarifas de importação incidentes sobre o etanol, criadas para proteger os produtores de milho dos EUA. El Salvador e outros países de América Central e Caribe têm isenção tarifária graças a um acordo comercial. A Cargill disse que, apesar das críticas, continuará analisando o projeto.

Fazendeiros e representantes do governo de Minnesota vieram várias vezes ao Brasil, este ano, conhecer seus concorrentes.

Os jornais do estado têm contribuído para aumentar o temor dos fazendeiros. O “Star Tribune” disse que Minnesota poderia perder a condição de “celeiro do mundo” para o Brasil. O “Chicago Tribune” deu manchetes como “O Brasil ameaça o reinado da soja americana”.

O Brasil, hoje, é a maior fonte de renda da Cargill fora dos EUA. A empresa responde por um quarto das exportações de açúcar brasileiras e tornou-se líder em esmagamento de soja, suco de laranja e produção de cacau.

— Investimos muito na produção de milho americana, mas temos de ver o que está acontecendo no Brasil — disse Dan Dye, presidente da divisão de consultoria Cargill AgHorizons. — O Brasil tem recursos abundantes e muita terra. Essa é a realidade econômica.

Economista chega a falar em ‘Opep da soja’

Para muitos agricultores, essas declarações da Cargill são um mau presságio.

— O Brasil poderia até se transformar em uma espécie de Opep (o cartel do petróleo), com o poder de determinar os preços internacionais da soja — disse Seth Naeve, agroeconomista da Universidade de Minnesota.

Mas os brasileiros não estão preocupados com o alarmismo dos fazendeiros de Minnesota:

— Alguns deles nem sabem direito se o Brasil fica ao Norte ou ao Sul da Guatemala — disse o fazendeiro Luiz Marcos Suplicy Hafers, que se reuniu com representantes do governo de Minnesota este ano.

A Universidade de Minnesota convidou Luiz Inácio Lula da Silva para uma série de palestras, mas ele não pôde ir.

— Se o foco da agricultura global vai se voltar para o Brasil, gostaríamos de entender o porquê — disse Rodney Leonard, diretor do Instituto de Nutrição, uma das entidades que convidou Lula.