Um dia após o grupo Nova América confirmar o encerramento de suas atividades na cidade, o prefeito Sílvio Félix anunciou ontem que a produção de açúcar nas instalações da empresa será retomada por um grupo brasileiro, de nome não-revelado. A nova empresa será financiada por dois investidores estrangeiros, num aporte de R$ 28 milhões iniciais, e deve empregar os trabalhadores demitidos pela Nova América.
Félix afirmou que sabia das intenções reais da Nova América de deixar o município desde março de 2006. Ele mantinha contatos com o representante do grupo, Roberto Resende, que garantiu-lhe a permanência na cidade apenas por mais um ano. Temendo os prejuízos diretos, como a demissão dos funcionários, e os indiretos, na cadeia de fornecedores, a Prefeitura manteve contatos com a empresa interessada, que confirmou na última semana a intenção de assumir o vácuo deixado pela Nova América.
A empresa será subsidiada por dois investidores, um do Canadá e outro da Espanha. De acordo com Félix, o grupo assumirá toda a infra-estrutura pertencente à Copersucar e vai centralizar a produção para exportações, o que vai gerar mais riqueza para o município. A produção estimada é de 16 mil toneladas por mês, num total de 200 mil anuais. “Este espaço de um ano que a Nova América esperou para sair da cidade foi suficiente para buscarmos amenizar o problema de sua saída”, explicou Félix.
De acordo com o prefeito, esta será a primeira injeção de dinheiro estrangeiro no município desde a chegada da Ajinomoto no município, em 1976. Mesmo com as negociações firmadas, o projeto aguarda a aprovação do Banco Central (BC) por se tratar de exportação, ou seja, entrada de dinheiro estrangeiro no País. Esta aprovação deve sair até o fim desta semana, quando fica liberada a assinatura do contrato com a Prefeitura.
O prefeito afirmou que a empresa está há muito tempo no mercado e tem pedidos para começar a produção imediata. No entanto, o prazo estipulado pela Nova América, dia 31 de março, será respeitado para daí elaborar um cronograma de transição. “A expectativa é que a produção seja retomada neste ano”, afirma. Ele informou que o açúcar exportado é diferente do comum e conhecido no País.
Félix disse que a Prefeitura vai manter os mesmos benefícios fiscais para a nova empresa, como desconto de 75% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e no Imposto Sobre Serviço (ISS).
A marca “União”, adquirida pela Nova América, será levada com a saída do grupo. Félix afirmou que a nova empresa vai exportar para países da África e da Ásia. Quanto a investimentos a longo prazo, ele é cauteloso. “Quando assinarmos o contrato saberemos o quanto teremos de investimentos e quantos empregos serão criados”.
TERMINAL FERROVIÁRIO
Para atrair a empresa, a Prefeitura está negociando com representantes da Brasil Ferrovias, responsável pela região Sudeste, para reativar a passagem e descarga de um trem e facilitar o escoamento da produção. Este investimento, segundo Félix, foi um dos pontos cruciais na vinda do novo grupo de açúcar, que quer investir em exportação e precisará de interligação com o porto de Santos.
O prefeito revelou que pretende construir um terminal ferroviário de cargas, com mais um 1 quilômetro de trilhos, e que, para isso, necessita de um trem e 60 vagões. A condição está sendo negociada junto com a TRW Automotive, Arvin Meritor, Ajinomoto e o novo grupo que assumirá as instalações da Copersucar. “Estamos prestes a fechar a parceria e reativar nosso sistema de escoamento ferroviário”, afirmou. Ele disse que não vai esperar dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para fazer o investimento.
A Prefeitura não tem estimativa ainda de quanto iria perder com arrecadação de tributos com a saída do grupo Nova América, mas espera recompor com a entrada do capital estrangeiro. A expectativa da Prefeitura é que a retomada do refino de açúcar não atrapalhe os prejuízos indiretos no comércio da cidade, previamente prejudicados com o fechamento da Nova América. “Pedimos para que todos os demitidos sejam empregados no novo negócio”, disse Félix.(RS)
Trabalhadores decidem pela volta ao trabalho
Os funcionários da Nova América participaram de assembléia no início da manhã de ontem na sede do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins de Limeira para uma avaliação do movimento, esperando a contraproposta da empresa às suas reivindicações.
De acordo com o presidente da entidade, Arthur Bueno de Camargo, no primeiro encontro realizado na noite de anteontem com representantes da empresa não houve um acordo em relação às reivindicações após as demissões em massa. Ontem à noite, uma nova assembléia foi realizada e os trabalhadores decidiram pelo retorno ao trabalho, porém, sem descartar uma greve até o dia 31 de março. “A empresa manteve a proposta inicial, porém, os trabalhadores não aceitaram, mas decidiram pela volta ao trabalho”, disse Artur, após o térnimo da assembléia, por volta das 21h15. Agora, de acordo com ele, o Sindicato vai encaminhar a decisão ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas.
Ao anunciar o fechamento da unidade de Limeira, a Nova América propôs o fornecimento do plano de saúde por mais três meses após o desligamento dos funcionários da empresa, mas o sindicato não aceitou. A entidade reivindicava pagamento de 12 meses de salários após as demissões, além de R$ 1,5 mil referente ao Participação nos Lucros ou Resultados (PRL).
Os funcionários que serão desligados no dia 31 de março ficaram apreensivos diante da incerteza se conseguirão reinserção no mercado de trabalho. A Gazeta ouviu o drama de muitos trabalhadores que estão há mais de 10 anos na empresa.
Há 14 anos, o operador de equipamento Paulo Constantino está na empresa e agora faz as contas das despesas que terá que cortar do orçamento. “Uma coisa é certa: o carro será vendido”. Aos 45 anos de idade, ele teme que sua faixa etária seja uma obstáculo a mais na procura de um outro emprego. “Acho que o prefeito Silvio Félix deveria se mobilizar e ajudar no encaminhamento para o mercado”, declarou.
Com o mesmo tempo de casa, a auxiliar de produção Adriana Godoy, de 35 anos, se emociona ao lembrar que sustenta o filho de 11 anos sozinha e teme não conseguir outro emprego. “É uma situação desesperadora”, afirmou.
O sustento dos dois filhos e da esposa é garantido através do trabalho do operador Valdir Alves de Souza, de 45 anos, que está há 18 anos na empresa. Agora, diante do fechamento da unidade em Limeira, o medo é inevitável. (ESS/ACB)