A expansão da área plantada de cana, para atender à demanda de açúcar e álcool nos mercados interno e externo, nos próximos anos, está estimulando a mudança do perfil técnico da lavoura. Além da colheita, com mecanização de 30% no País, aumenta o índice de uso de maquinários na lavoura, principalmente no plantio. A cana-de-açúcar permite isso, pois já há equipamentos desenvolvidos para todas as fases da cultura, do plantio à colheita.
No noroeste do Estado de São Paulo, que é o novo horizonte para o setor sucroalcooleiro, a tendência é a de que os novos canaviais adotem a mecanização desde o plantio. Segundo o diretor-técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, o plantio mecanizado, se for mais competitivo e viável nas áreas onde serão construídas novas unidades industriais do setor sucroalcooleiro, tem tudo para dar certo.
Há intenção de construir cerca de 40 usinas – com capacidade de processamento de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas de cana por ano -, com investimentos que podem chegar aos US$ 5 bilhões, sendo US$ 3,2 bilhões nas áreas industriais, US$ 800 mil nas áreas agrícolas e US$ 1 bilhão nos plantios. “Vai depender da tecnologia e da mão-de-obra nesses locais”, comenta Rodrigues. E a região noroeste paulista é a mais visada para a expansão.
Os fabricantes desse tipo de maquinário também vislumbram bons negócios nos próximos anos. “O plantio mecanizado vai se impor para as usinas de ponta nos próximos três anos”, aposta o diretor-superintendente da Santal, José Arimatéa Calsaverini, cuja empresa fabrica vários equipamentos para a cana-de-açúcar, entre eles uma plantadora. “É inescapável a mecanização integral do processo, do plantio à colheita.”
CUSTO MENOR
A Usina São Martinho, com sede em Pradópolis (SP), pioneira no plantio mecanizado no País, já adotou a técnica em 30% de seu canavial. A perspectiva é aumentar esse porcentual para 80%, o mesmo índice do corte mecanizado, em quatro ou cinco anos. A usina aposta nas vantagens do custo menor, maior qualidade e melhor adequação dos recursos para os equipamentos e mão-de-obra.
Em 1989, uma máquina foi importada da Austrália, pela antiga Copersucar, mas não teve o desempenho desejado. Em 20 hectares de área plantada, a perda foi de 100%, por causa dos danos nas gemas. Foi a primeira experiência. Depois disso, em 1993, outra máquina australiana foi importada e também não serviu para o canavial brasileiro, pois era ideal para pequenos produtores e não agüentava o ritmo intenso do cultivo no País, além de detalhes técnicos e topografia diferentes não ajudarem.
Em seguida, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) desenvolveu outros dois protótipos. O primeiro, com concepção simples, de fácil manobra, baixo índice de compactação do solo e manutenção do equipamento, foi licenciado para duas fabricantes. Mas foi com o desenvolvimento da PCP-2, pelo CTC, atualmente com quatro unidades na São Martinho, que se chegou ao desejado. “Nessa máquina, o sistema de transporte interno dos toletes é diferente, com a cana sendo empurrada, não com uso de correntes, que poderiam estragar as gemas”, explica o gestor de Transferência de Tecnologias do CTC, José Guilherme Perticarrari. Essa plantadora distribui os toletes com quatro ou cinco gemas. “Plantando os toletes maiores tem-se mais chance de que as gemas brotem”, diz.
Segundo Perticarrari, além da plantadora, é preciso outro cuidado especial no processo: adaptar a colhedora para o viveiro de mudas (sem danificar os toletes). “Para ser comercialmente viável, é preciso ter o conjunto de colhedora para mudas, transbordo e plantadora”, comenta ele, lembrando que a tecnologia de plantio é a mais complicada a se desenvolver. “Enterramos o tolete e não se vê mais o que fizemos”, diz ele, destacando que não há mão-de-obra especializada e suficiente para o plantio de cana. “O que vai balizar tudo é o crescimento da colheita.”