Mercado

Cana-de-açúcar zoneada

O governo decidiu, ontem, de forma significativa, ordenar os espaços agricultáveis para a produção de etanol no mercado interno e para desfazer, no âmbito internacional, a falácia segundo a qual o combustível verde levaria o Brasil a comprometer a produção de alimentos. Este argumento é usado, geralmente, pelos países sem domínio sobre as condições da produção brasileira de etanol e sem tecnologia para transformar a cana em álcool carburante, de larga aceitação.

Ao Congresso Nacional, foi encaminhada mensagem do Poder Executivo propondo o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, levando em conta a necessidade de o País dispor de matéria-prima suficiente ao equilíbrio da demanda doméstica e internacional do etanol. Para proteger as regiões de solos frágeis, com risco de desequilíbrio ambiental, o plantio da cana será vetado na Amazônia, no Pantanal e no Alto Rio Paraguai, em Mato Grosso, responsável pelo suprimento ! de água da região pantaneira.

Há no País uma área adequada ao plantio da cana correspondente a 8,5 milhões de hectares, com possibilidade de se expandir para 14,9 milhões até 2017. A cana ocupa, atualmente, 7,1 milhões. O zoneamento dobra, então, os espaços adequados ao cultivo da agroindústria açucareira e seus desdobramentos em etanol. Um decreto, já assinado, proíbe o descumprimento desses espaços zoneados, fora, portanto, dos 19% do território nacional disponibilizados.

A mensagem define as linhas gerais da estratégia de produção de cana, açúcar, álcool e etanol. A cadeia produtiva seguirá regras rígidas para eliminar, de vez, a poluição causada na Natureza, especialmente pelas queimadas e pela colheita dos plantios, ainda rudimentar. O processamento será feito, obrigatoriamente, de forma mecanizada, sem se admitir o uso do fogo. As queimadas, inseridas entre os agentes poluidores, serão zeradas em cinco anos.

O setor sucroalcooleiro ingressa, no momento, em mais uma etapa da inovação desencadeada com o lançamento do carro a álcool, na década de 80. Desta vez, o vetor das alterações substanciais nas plantas da indústria automobilística é o carro “flex fuel”, cuja primeira geração data de 2003. Entre janeiro e junho deste ano, foram comercializados, no mercado interno, 1.483.695 automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões.

Desse total, os veículos flex – abastecidos com gasolina ou álcool – representaram 85, 24%; a diesel, 8, 24%; e a gasolina, 6,52%. Esse patamar supera o recorde alcançado pelo carro a álcool, em 1986, quando a produção nacional chegou a 72,64% dos veículos comercializados. O País desfruta, assim, tanto da tecnologia do veículo flex como da transformação do álcool em combustível carburante.

A produção e a produtividade da cana também alcançaram avanços significativos. A safra 2002/2003 atingiu 320 milhões de toneladas; a de 2008/2009 salta para 572 milhões de toneladas, com acréscimo de 80%. A produção média da cana, por hectare, há 30 anos, era de 47 toneladas. Na safra deste ano, chega a 81 toneladas por hectare.

Estas condições objetivas credenciam o Brasil a liderar, no mercado internacional, a produção e o consumo do etanol, sem afetar, por qualquer hipótese, as áreas tradicionalmente ocupadas com o cultivo de alimentos. O zoneamento responderá, assim, aos desinformados sobre as peculiaridades nacionais.