A informação pode parecer inusitada: de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os resíduos secos do cultivo de cana-de-açúcar no país têm um potencial de geração de energia maior do que a capacidade instalada da Usina de Itaipu. Segundo o “Plano Nacional de Resíduos Sólidos: Diagnóstico dos Resíduos Urbanos, Agrosilvopastoris e a Questão dos Catadores”, divulgado nessa quarta-feira, o emprego desses resíduos poderia levar à produção de 16.464 megawatts por ano. Já a geração potencial de Itaipu fica em torno de 14 mil megawatts.
A cana-de-açúcar, entre 13 culturas agrícolas examinadas, foi a que apresentou resíduos com maiores possibilidades energéticas, além de propiciar excedentes que atingiram 201 milhões de toneladas anuais. Também foi exitosa quanto aos subprodutos, como é caso do bagaço, de alto teor energético. O setor responsável pelo plantio é autossuficiente e já produz 98% da demanda própria de energia. Para o Ipea, há uma utilização aquém da capacidade produtiva e o desafio é gerar energia aproveitando e intensificando os recursos disponíveis. Para que isso ocorra, deve haver mais investimentos. Só assim será possível superar entraves de ordem técnica, econômica e regulatória.
No total, os descartes com potencial energético chegam a 291 milhões de toneladas por ano e incluem resíduos de agricultura, pecuária e florestas. Alguns deles chegam a gerar duplo benefício, como é o caso do bagaço da cana, que produz energia e resolve um problema de logística por não demandar transporte.
O Brasil está hoje com uma legislação avançada em termos de meio ambiente. Nela, estão previstos o fim dos lixões, a implantação da lógica reversa (o produto descartado faz o caminho de volta) e a exploração econômica dos resíduos. O momento agora é de dar efetividade às normas vigentes, com ganhos para todo o sistema produtivo, como no caso do processamento da cana-de-açúcar, passível de competir com a Itaipu binacional em termos de oferta de energia.