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Cana-de-açúcar avança sobre cultivo de algodão em Goiás

Há pelo menos 8 projetos de usinas em áreas que eram antes ocupadas pela cotonicultura. A cana-de-açúcar, que já empurrou a pecuária do Sudeste e avança sobre os grãos no Centro-Oeste agora toma mais uma cultura de assalto: o algodão. Em Goiás, a região tradicional de cultura do grão que há quatro anos respondeu por 80% da área estadual nesta safra deve ficar com apenas 14%. As estimativas são que os municípios em que o algodão perdeu espaço recebam investimentos para a construção de 8 novas usinas até o ano que vem.

A mudança de área, no entanto, trouxe aumento de produtividade para os cotonicultores. Enquanto no entorno de Santa Helena de Goiás – região tradicional – a produtividade média é de 200 arrobas por hectare (em caroço), no entorno de Montividiu fica em 260 arrobas por hectare, ou seja, 30% mais.

“Houve uma migração do eixo de produção da baixa para a alta altitude”, diz Miguel Biegai Júnior, analista da Safras & Mercado. Segundo ele, em alguns bolsões, a produtividade chegará a 300 arrobas por hectare. A mudança na rota trouxe resultados para a safra do estado: enquanto a área aumentou 11,2%, a produção será 22,4% maior: 936,6 mil toneladas (em caroço), segundo estimativas da consultoria.

O presidente da Associação dos Produtores de Algodão de Goiás (Agopa), Haroldo Rodrigues da Cunha, explica que além de a cana-de-açúcar entrar na região, os resultados negativos de duas safras desestimularam o cultivo do algodão onde a produtividade era baixa. Segundo ele, nas áreas mais altas – de chapada, com altitude acima de 800 metros – o ciclo produtivo do algodão é até 30 dias mais longo, proporcionando um peso maior das maçãs e um melhor rendimento de pluma. Cunha diz que apesar de o movimento ter iniciado há quatro anos, acentuou-se nesta safra. Na temporada 2004/05, as novas áreas respondiam por 48,33% do total cultivado, passando para 62,97% no ano seguinte e 86,01% na safra atual – acréscimo de 23 pontos percentuais de um ano para outro.

O produtor Wellington Serafim também foi “empurrado” pela cana-de-açúcar. Há duas safras abandonou a área de 450 hectares – que era arrendada – em Morrinhos e passou a cultivar algodão apenas em Panamá – onde planta atualmente 850 hectares. “A cana está invadindo na região de Morrinhos, estão colocando usina e a rentabilidade desta lavoura é maior”, explica. Em Morrinhos ele produzia, no máximo, 230 arrobas por hectare. Em Panamá pretende colher, em média, 250 arrobas por hectare. Serafim também está investindo em cana-de-açúcar, plantando mudas em 160 hectares.