Pressionado pela comunidade internacional sobre a sustentabilidade de sua produção, o setor sucroalcooleiro, capitaneado pelo Brasil, prepara-se para lançar mão de uma certificação global que garanta melhores práticas agrícolas, ambientais e sociais.
Conhecida como Better Sugarcane Initiative (BSI), a ação começou a ser elaborada há três anos e reúne grandes produtores e consumidores de açúcar e álcool, como Coca-Cola, Shell e BP, além de financiadores (IFC, afiliada do Banco Mundial) e organizações não-governamentais (WWF entre elas).
Em março, uma versão preliminar de princípios, critérios e indicadores foi publicada e agora passa pelo crivo de consultas públicas. A expectativa é de que em novembro deste ano essas novas normas sejam aprovadas pela Assembleia Geral da BSI, que estará reunida em Londres.
” A certificação deve começar em 2010 ” , afirma Geraldine Kutas, assessora internacional da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), sediada em São Paulo. ” Cerca de 70% do setor mundial de cana-de-açúcar está envolvida na iniciativa. Queremos que seja um negócio ´mainstream´ e não apenas de nicho ” .
De acordo com a executiva, as normas serão medidas metricamente – cada indicador terá um valor de referência -, o que dará mais objetividade ao processo. Além disso, a iniciativa levará em conta diretivas da União Europeia de promoção de energia renovável, adotadas em dezembro, que determinam a redução de 35% nas emissões de gases de efeito estufa, subindo para 50% em 2017. ” Desta forma, o selo BSI seria aceito com facilidade por países europeus ” , diz Geraldine.
Segundo ela, a ideia inicial do grupo contemplava apenas a certificação do açúcar. Mas os questionamentos sobre a sustentabilidade do etanol acabaram estendendo as discussões ao produto. A principal crítica desses países é de que a expansão da cana força as demais culturas a se deslocarem para áreas ainda preservadas do país, como a Amazônia.
” A certificação abrirá novos mercados ” , diz Luis Fernando Guedes Pinto, superintendente do Imaflora, que entrará também na certificação de cana no país. A partir de segunda-feira, a entidade passará a auditar propriedades brasileiras de cana e soja sob o selo Rainforest Alliance, criado pela Rede de Agricultura Sustentável nos anos 90.
O selo internacional já existe para culturas perenes como café, cacau, banana e chá. No Brasil, o Imaflora é o único apto a auditar os projetos. ” Já são mais de 40, basicamente de café ” , diz Guedes Pinto.
De acordo com ele, o Brasil vendeu 200 mil sacas de café certificado no ano passado, com prêmio médio de R$ 15,00 por saca. ” Queremos causar transformações na agricultura tropical e, para isso, teríamos de alcançar também soja, cana e dendê ” , explica.
Duas empresas já mostram interesse na certificação: o grupo Balbo, de Sertãozinho (SP) e o Adecoagro, com sua usina em Angélica (MS). Para tanto, elas deverão seguir dez princípios e 100 critérios nas áreas ambiental, social e agronômica. (Bettina Barros)