Duas variedades genéticas da cana-de-açúcar conhecidas como 454 e 1.115, suscetíveis à ferrugem laranja, estão presentes em 228 mil hectares de lavouras em São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, segundo levantamento da UFSCar (federal de São Carlos).
A área corresponde a 7,6% dos cerca de 3 milhões de hectares de cana cultivada distribuídos em 132 propriedades. Na região de Ribeirão Preto, 89 cidades totalizam 1,8 milhão de hectares de canaviais.
Depois do primeiro foco brasileiro detectado em uma fazenda de Rincão, no mês passado, o Ministério da Agricultura trabalha com fortes indícios de que a ferrugem se espalhou para Ribeirão, Arara! s, Piracicaba, Conchal e Araçatuba.
Testes realizados pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), entidade mantida por empresas do setor sucroalcooleiro, mostraram que, além da 454 e da 1.115, outras três variedades tiveram resistência parcial ao fungo Puccinia kuehnii, que ataca as folhas da cana e pode reduzir 20%, em média, sua produtividade.
O risco de propagação da ferrugem laranja tem preocupado os produtores de todo o centro-sul do país, conforme publicou ontem a Folha. Em nota, o corpo técnico do CTC afirmou que a doença “chegou com força” ao Brasil e pode causar “perdas representativas”.
O engenheiro agrônomo e fitopatologista do CTC Enrico Arrigoni afirmou ontem que a alternativa para produtores reduzirem os impactos da ferrugem em seus canaviais é investir no plantio das espécies resistentes à doença. Das 34 variedades de cana testadas pela entidade, 29 demonstraram resistência.
Segundo estudos encomendados pelo Ministério da Agricultura, os prejuízos ao setor sucroalcooleiro poderiam chegar a R$ 1 bilhão. Mesmo assim, Arrigoni disse acreditar que a doença não deve motivar mais altas nos preços do açúcar e do álcool ao consumidor.
Professor na área de melhoramento genético da UFSCar em Araras, Antonio Ismael Bassinello disse que a chegada da doença ao Brasil tende a acelerar o desaparecimento das variedades suscetíveis.
A preocupação com a ferrugem tem movimentado técnicos e autoridades ligadas ao setor. Anteontem, um grupo do IAC (Instituto Agronômico), ligado à Secretaria de Estado da Agricultura, debateu o problema em Ribeirão. Na segunda-feira, uma equipe do Ministério da Agricultura estará na capital com o mesmo objetivo.