Apenas cultivo de soja e arroz deve crescer; áreas de algodão, milho e feijão diminuem. Apesar dos preços internacionais das principais commodities mais altos , a cana-de-açúcar não está deixando as demais atividades agrícolas se expandir. Segundo levantamento da Safras & Mercado, apenas a soja e o arroz registrarão aumento de plantio na safra 2007/08. Em ambos os produtos o movimento significa apenas recuperação de área. Nos últimos dois anos, os agricultores vinham reduzindo a superfície cultivada.
A cana-de-açúcar está roubando áreas devido ao etanol e limitando o espaço dos grãos, diz Flávio França Júnior, diretor de produção da consultoria. Pela projeção da empresa, os produtores vão semear cerca de 21,3 milhões de hectares, alta de 2,4% em relação ao plantio passado. Desde a temporada 2004/05 que a superfície cultivada está menor. Naquele ano foram 22,15 milhões de hectares ante ao recorde da safra 2003/04, de 23,28 milhões de hectares. Isso significa que, mesmo com um plantio maior, a oleaginosa ainda não recuperou sua maior área. Pela estimativa da consultoria, a produção do grão deverá ficar em 59,46 milhões de toneladas. França Júnior explica que existem algumas limitações para uma produção maior, como a ferrugem e fenômeno La Niña, que podem reduzir a produtividade do grão.
De acordo com o diretor de produção da Safras & Mercado, o impacto do preço internacional mais elevado e o sucesso da colheita passada trouxeram lucratividade para os produtores. Boa parte está negociando com lucratividade positiva, embora limitada pelo câmbio, afirma França Júnior. Segundo levantamento parcial da empresa, a lucratividade média da soja na safra 2006/07 varia de 16% no Sul de Mato Grosso a 29% no Rio Grande do Sul. No entanto, de acordo com ele, o aumento na área será pequeno porque os preços em reais não são empolgantes e a expansão da cana-de-açúcar vai ocupar área de grãos no Centro-Oeste, Sudeste e Paraná. Entre as principais regiões produtoras, o Centro-Oeste terá a maior redução no cultivo: 3,5%.
Outro produto com recuperação na área será o arroz. A estimativa é de uma superfície semeada 3,3% maior no Brasil, ocupando 3,14 milhões de hectares. De acordo com o analista da Safras & Mercado, Tiago Barata, trata-se de uma volta a patamares anteriores, pois nos últimos dois anos, no Rio Grande do Sul – principal produtor nacional – havia pouca disponibilidade hídrica para o plantio e o arrozeiro teve de diminuir a área. Pelo terceiro ano consecutivo a produção será inferior ao consumo, afirma. A consultoria projeta uma colheita de 12,1 milhão de toneladas, mas não tem estimativa para a demanda. Neste ano, o consumo é de 12,9 milhões de toneladas.
Segundo a estimativa da consultoria, o maior incremento no plantio ocorre no Rio Grande do Sul, com alta de 9,4%. Em Mato Grosso, o aumento é de 0,3%.
Os demais produtos levantados na intenção de plantio da Safras & Mercado apresentaram queda na área estimada. A maior variação ocorrerá com o feijão primeira safra. Segundo a pesquisa, o cultivo será de 1,170 milhão de hectares, um recuo de 11%. Os baixos preços na comercialização do produto e as cotações internacionais elevadas das principais commodities deverão determinar a menor área plantada. Segundo a previsão da consultoria, os grandes produtores devem migrar para a soja.
A projeção da consultoria para o plantio de milho é de queda de 0,2% no Centro-Sul, ocupando 5,563 milhões de hectares na colheita de verão. As estimativas preliminares para a safrinha apontam um recuo de 0,8% na superfície semeada, que deve atingir 4,470 milhões de hectares. A área fica praticamente estável e, no caso da safrinha, apesar de ser cedo para uma indicação, é normal que tenha uma acomodação, diz Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. Segundo ele, fatores como a cotação elevada para a soja, os preços mais altos para os adubos nitrogenados utilizados nas lavouras de milho e as baixas cotações do cereal por conta da colheita da safrinha poderão contribuir para a retração na área plantada no verão. Ele acrescenta ainda o avanço da cana-de-açúcar em superfícies de grãos como fator relevante para esta queda que chega a 16,3% em São Paulo e 15,5% no Paraná. Pelas projeções da empresa, a colheita de milho será de 27,78 milhões de toneladas no verão (0,6% superior), enquanto a safrinha deve ter produção de 17,7 milhões de toneladas. Com isso, a safra total do cereal será de 51,25 milhões de toneladas.
Para o algodão, a perspectiva é de um recuo de 0,7% na área, saindo de 1,129 milhão de hectares para 1,120 milhão. A alta nas cotações internacionais da fibra mudou a percepção de alguns cotonicultores que estavam fortemente decididos a cortes expressivos de área. Há dois meses, de acordo com a análise da consultoria, era corrente o sentimento que o plantio cairia entre 10 a 15%.