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Cana à moda gaúcha

Após quatro anos de pesquisas, a Embrapa pretende pela primeira vez oficializar a recomendação de cultivares de cana-de-açúcar para o Rio Grande do Sul. A divulgação deve ocorrer em setembro, depois a análise dos resultados do corte de áreas experimentais em 12 municípios. Por enquanto, os dados preliminares apontam para viabilidade da atividade mesmo em regiões excluídas do zoneamento da cultura no Estado, divulgado em 2009, derrubando de vez a crença de que o clima hostil condenaria os gaúchos a depender apenas do etanol produzido no Centro-Sul do país.

Responsável pelo estudo, o pesquisador Sérgio Delmar dos Anjos e Silva, da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, diz que tecnicamente estão reunidas todas as condições para serem lançadas as variedades de cana que melhor se adaptam ao frio e são menos sensíveis a geadas.

Resta apenas a concordância formal da Rede Interuniversitária do Desenvolvimento do Setor Sucroalcoleiro (Ridesa), o que deve ocorrer em um encontro em setembro. Após analisar cerca de 220 cultivares, de quatro a seis devem ser apresentadas.

– Temos materiais com qualidade e boa tolerância ao frio que faz aqui – diz Silva.

Apesar do inverno rigoroso deste ano, das 12 áreas pesquisadas apenas duas, em Caxias do Sul e Erechim, apresentaram danos significativos devido à intensidade de geadas. Nos cortes realizados nos quatro anos, a produtividade média atingiu 150 toneladas por hectare. Silva projeta que, produzidas a campo, o rendimento chegará a algo entre 80 e 90 toneladas por hectare, semelhante ao que é obtido em São Paulo.

– Se plantássemos cana em área equivalente a 5% (200 mil hectares) da área de soja cultivada no Estado, poderíamos ser autossuficientes em etanol – sustenta.

A demanda estimada hoje para o Rio Grande do Sul é em torno de 1,3 bilhão de litros ano, entre combustível e a necessidade da planta de plástico verde da Braskem, em Triunfo. No Rio Grande do Sul, 246 municípios – principalmente do noroeste do Estado e Depressão Central – foram incluídos no zoneamento agrícola.

Em São Luiz Gonzaga, agricultores ligados à Canasul esperam há quatro anos a viabilização da Noroesthe Bioenergética SA (Norobios). A empresa, uma das três sócias da usina, chegou a ter 50 produtores rurais que cultivaram até 200 hectares de mudas para multiplicação.

O presidente da Canasul, Pedro Plínio Vieira Marques, estima que hoje os números caíram para cerca de cem hectares, cultivados por 39 agricultores, devido à demora para o projeto sair do papel. Em busca de uma alternativa à soja devido à má distribuição de chuvas na região, os que resistem confiam na retomada da Norobios.

– É o custo do pioneirismo – acredita Marques.

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CAIO CIGANA

A demanda gaúcha

O consumo do combustível de cana no Rio Grande do Sul chega a

800 milhões

de litros por ano

Somente planta de eteno a partir de etanol, matéria-prima para o polietileno verde da Braskem no polo de Triunfo necessita de

500 milhões

litros por ano

Esses dois segmentos somam um consumo de

1,3 bilhão

de litros por ano