Mercado

Campo em transformação no Paraná

Depois de ter perdido por um ano a liderança na produção de grãos no país para o Mato Grosso, o Paraná voltou ao topo do ranking na colheita passada e deve se manter na primeira colocação na próxima. Mas, ao contrário do que pode parecer, os produtores não estão ampliando as áreas destinadas a soja, milho e outros grãos. Pelo contrário. Nesse segmento, a produção só crescerá caso a produtividade aumente.

A tendência está refletida nas últimas estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral) – ligado à Secretaria da Agricultura (Seab) – para a safra estadual de verão 2006/07, que está sendo plantada. Os números revelam que a área de grãos será 1,7% menor, enquanto a produção tende a crescer 18,5%, para 20,9 milhões de toneladas. E o mesmo relatório mostra que um novo mapa produtivo pode estar sendo desenhado no Paraná, já que a quantidade de terras que receberão outras culturas, como cana-de-açúcar, batata e tomate, deverá aumentar 6,3%.

Já havia acontecido a mesma coisa na safra passada, quando a Seab verificou uma pequena redução do espaço ocupado por grãos e uma ampliação da área de outras culturas. “Trata-se de um movimento lento, mas está havendo uma mudança no perfil produtivo do Estado”, sustenta Gilka Cardoso Andretta, chefe da Divisão de Estatísticas da secretaria. “As pessoas começaram a despertar para outras culturas”, diz.

Não quer dizer que, de uma hora para a outra, o Paraná vai virar as costas para a soja, que ainda será vista em mais de 60% da área da safra paranaense de verão. Mas três anos seguidos de estiagem e preços internacionais pouco atraentes – as cotações reagiram nos últimos meses – levaram os agricultores a repensar o modo de atuação. Dados do Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária paranaense de 2005, que estão sendo finalizados e deverão ser publicados em janeiro, confirmarão alterações de posições e de participações dos principais grupos de produtos no faturamento do campo.

Alguns números já estão fechados. Pela segunda vez na história do cálculo do VBP (feito desde 1991), o grupo “pecuária”, que inclui bovinos, suínos, aves e outros, passou o das “principais culturas”, que inclui grãos (ver tabela). No VBP da safra 2003/04, por exemplo, as principais culturas respondiam por 50,14% do faturamento do campo. Na 2004/05, a fatia caiu para 40,01%. A pecuária, mesmo atingida por problemas como febre aftosa e gripe aviária, saltou de 35,19% para 40,73%. Enquanto um teve variação nominal negativa de 29,09%, o outro ficou positivo em 2,85%. A primeira vez que houve essa troca de posições foi em 2000.

“Temos como meta agregar valor à produção e diversificar”, afirma o superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken. Para ele, o aumento da produção de aves no Estado foi resultado dessa visão. Em sua opinião, porém, a menor participação dos grãos está mais relacionada ao clima do que a mudanças de estratégias. “É preciso levar em conta o fato de que a produção de grãos torna viável a avicultura”.

O presidente da Coamo, maior cooperativa agrícola da América Latina, José Aroldo Galassini, diz que não há muita opção de diversificação para grandes áreas, que dependem de grandes mercados, e que também é difícil convencer o pequeno produtor a mudar. Mas o próprio Galassini tem feito experiências nos últimos cinco anos, com a integração agricultura-pecuária. “É uma boa opção em relação ao trigo, porque boi não morre com geada”.

A Coamo tem fornecido orientações sobre o assunto aos produtores do centro-oeste paranaense. No inverno, planta-se em parte da propriedade aveia e a gramínea azevém, para alimentação de animais. No verão, os bois podem ocupar um espaço menor e cultiva-se soja ou milho. Com a técnica, Galassini reduziu em 5% sua área de grãos. Mas ele explica que essa porcentagem depende da quantidade de bovinos que se pretende ter. O “dirigente-produtor” conta que também tem visto aumentar no Estado, aos poucos, a produção de frutas como uva e laranja.

Em visitas ao interior, o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tem criticado a monocultura e incluído falas sobre a necessidade de diversificação. No caso da soja, haverá incremento de área de 1,7% na safra 2006/07. Segundo o Deral, deverão ser plantados 3,95 milhões de hectares. Mas mesmo essa ampliação é seguida de informações sobre mudanças de cultura. Conforme o órgão, esse aumento só não é maior porque na região do Arenito Caiuá (noroeste), onde foi cultivada soja em 2005, os produtores estão migrando para a cultura da cana e/ou retornando às pastagens.

O levantamento do VBP de 2005 mostra que, além da troca de posições entre grãos e pecuária, outros produtos ganharam espaço. Entre eles estão os florestais, cuja participação subiu de 9,28% para 12,35%, graças a uma variação nominal positiva de 18,31%. Hortaliças e especiarias tinham uma fatia de 3,32% e passou para 4,42%, com aumento de 18,25% nas receitas. No caso das frutas, o incremento observado foi de 2,07%, e a participação do grupo passou de 1,96% para 2,25%. Embora represente apenas 0,23% do VBP, o segmento de flores foi o que apresentou a maior variação de faturamento observada: 83%.

A diversificação pode ser comprovada, ainda, no número de produtos acompanhados para a determinação do VBP. Em 2004, ele passou de 307 para 508, quantidade mantida no ano seguinte. Na análise individual por produtos, os dez principais perderam participação no bolo. Antes, representavam 75,29%, mas em 2005 responderam por 72,72%.