O anúncio do Zoneamento Agroecológico da Cana, na última quinta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve, pelos menos, uma compensação. Se, de um lado, o zoneamento poderá limitar a expansão da produção nas áreas do bioma sem afetar os empreendimentos já em operação, de outro traz a perspectiva da chegada de novos investimentos por conta da definição das novas fronteiras que poderão ser abertas. Mais: abre caminho para a implantação do tão sonhado alcoolduto, que poderá impulsionar o setor sucroalcooleiro do Estado e incluir o etanol na pauta de exportações de Mato Grosso.
“Definidas as regras do jogo e as circunstâncias do que é o zoneamento, temos de começar a trabalhar o projeto do alcoolduto com a visão focada nos novos investimentos que virão para o Estado”, afirma o diretor executivo do Sindicato das Indústrias sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindálcool), Jorge dos Santos.
Segundo ele, para que o alcoolduto se viabilize economicamente, Mato Grosso terá que produzir 4 bilhões de litros de álcool. Na atual safra, a produção foi de 850 milhões de litros. “Com as 11 usinas trabalhando a plena carga, mais a capacidade instalada da Brenco, teremos 1,2 bilhão de litros. Somando ainda à produção da Cruster – que tem projeto de investir R$ 7 bilhões nas três unidades e no plantio de 65 mil hectares em suas três unidades – podemos chegar a 2 bilhões de litros de etanol. Acredito que a definição das regras do zoneamento abre os caminhos para que novos investimentos sejam implantados, viabilização a chegada do alcoolduto até Mato Grosso”, avalia Santos.
A Brenco tinha previsão de iniciar a operação em outubro, porém, poderá adiar os planos em função das dificuldades financeiras da empresa. Com a crise econômica mundial, a empresa teve dificuldades de captar recursos junto aos fundos de pensão norte-americanos. “A indústria está negociando com a Petrobras e com a Odebrecht para formar um consórcio para concluir o projeto”. Com investimentos totais de R$ 1 bilhão, a Brenco já tem 1,5 milhão de toneladas de cana plantados em uma área de 30 mil hectare.
No novo zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, o governo federal mapeou e identificou 6,8 milhões de hectares que já estariam aptos ao plantio. “Se considerarmos que usamos apenas 230 mil hectares para produzirmos 850 milhões de litros de etanol, significa que poderemos crescer e multiplicar a área de cultivo de cana-de-açúcar em quase 30 vezes”. Para o diretor do Sindálcool, o ! impacto do zoneamento foi forte para as usinas que já estão nas áreas do bioma, pois essas unidades poderão ficar estagnadas depois que atingirem sua expansão máxima.
“O importante é que o zoneamento traz clareza para definição dos investimentos e expansão da atividade nas áreas permitidas pelo zoneamento. Antes não tínhamos nem esta definição e os investidores ficavam com um pé atrás antes de tomar uma decisão”, afirma Jorge dos Santos.
Segundo ele, as regiões de Torixoréo, Alto Taquari, Santo Antônio do Leste e toda a área de influência da BR-158, até a divisa com o estado de Goiás, serão as mais beneficiadas pelo zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar.
AVALIAÇÃO – Para o diretor do Sindálcool, o zoneamento “não foi tão prejudicial como imaginávamos” e não há motivos para alardes. “Para nós foi um alívio, mesmo porque o presidente Lula afirmou que o mundo não vai comprar etanol se o produto não for resultado de boas práticas ambientais e sociais”. Mesmo as! sim, ele disse que o setor sucroalcooleiro vai apoiar a luta do setor produtivo para alterar o projeto do zoneamento enviado ao Congresso, no sentido de impedir ou minimizar as restrições da atividade nas áreas do bioma.