Fabricantes de caldeiras têm registrado retração dos pedidos de equipamentos a gás e aumento das encomendas de máquinas à base de biomassa. A dinamarquesa Aalborg registrou aumento de 30% dos pedidos de caldeiras à base de biomassa feitos entre janeiro e outubro de 2006. No mesmo período, houve cerca de 20% de crescimento dos pedidos de conversão de caldeiras de gás para óleo combustível. Na Konus, que detém cerca de 60% do mercado de aquecedores para óleo térmico, para setores como têxtil, alimentício e automobilístico, as encomendas de equipamentos a gás também estão sendo substituídas por máquinas a óleo ou a biomassa.
As razões para a mudança apontadas pelas companhias são as incertezas sobre o fornecimento do gás boliviano a partir de maio, quando o governo da Bolívia decretou a nacionalização do setor petrolífero, e os aumentos sucessivos do gás verificados desde o quarto trimestre de 2005.
De acordo com o diretor de marketing e vendas da Aalborg, Alberto Crespo, é possível que a demanda por caldeiras à base de biomassa cresça ainda mais este ano. Até mês passado, foram feitos 102 novos pedidos, incluindo todas as modalidades de fontes energéticas. Crespo calcula que deverá fechar o ano com 115 encomendas. Os pedidos vieram de diversos segmentos, de alimentação e bebidas a hospitalar, passando pelo farmacêutico e pelo de cosméticos. A vantagem deste tipo de equipamento, segundo Crespo, é sua flexibilidade. As possibilidades de combustível incluem cascas de arroz, lenha, cavaco (pedaços de madeira) e bagaço de cana, entre outros. Na opinião do diretor, a maior demanda por essa categoria de máquina reflete claramente a preocupação com o fornecimento e possíveis novos aumentos do gás. “No ano passado, os pedidos de caldeiras movidas a gás haviam crescido 35% até outubro. Este ano eles estagnaram, enquanto os equipamentos com combustíveis concorrentes cresceram”, disse.
Na Konus o cenário é o mesmo. “Nas regiões em que a biomassa é disponível, os clientes quase não pedem mais orçamentos para gás”, diz Lincoln Dias, diretor administrativo da empresa. Ele cita como exemplo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que dispõem de madeira de reflorestamento. De acordo com o diretor, a mudança no tipo de equipamento não traz maiores conseqüências para o volume de negócios da empresa, pois há apenas uma substituição de equipamentos, não uma queda nas vendas.
Apesar da resistência ao gás, a participação dos pedidos de caldeiras à base desse energético continuou alta na Aalborg, correspondendo exatamente à metade das encomendas, uma leve retração em relação a 2005, quando eles responderam por 55% da carteira. Na opinião de Crespo, apesar das incertezas que rondam o fornecimento e o preço do gás, ele continuará sendo muito demandado, pois assegura mais qualidade aos produtos e é um combustível limpo.
A companhia tem uma fábrica em Petrópolis, região serrana do Rio, com capacidade para 20 caldeiras mensais. A produção é destinada ao mercado interno, principalmente aos setores alimentício (35%) e químico e petroquímico (20%). A empresa mantém ainda uma unidade em Macaé, cidade do norte fluminense que serve de base para operações da Petrobras na Bacia de Campos, para manutenção de equipamentos das plataformas. A empresa faturou R$ 57 milhões em 2005 e pretendia chegar a R$ 65 milhões este ano, com as encomendas da indústria naval, mas o atraso da licitação da Transpetro adiou os planos de crescimento para o próximo ano.
O preço do gás vindo da Bolívia foi reajustado em 20% a partir de setembro de 2005 até junho deste ano, indo para US$ 5,15 por milhão de BTUs (unidade de medida de gás). No mesmo período o gás nacional foi reajustado em 5% e deverá sofrer novos reajustes este ano, segundo a própria Petrobras. A empresa alega defasagem de preço em relação ao mercado e a necessidade de conter o consumo, que cresce 17% ao ano.
Antecipando-se aos reajustes e buscando mais garantia do fornecimento, a fabricante de telhas catarinense Cemisil iniciou a construção de um forno bicombustível movido a gás e sepilho (pó de serragem), há cerca de 30 dias. A idéia é inativar o forno à base exclusivamente de gás da cerâmica, que eleva em quatro vezes o custo da telha, se comparado com o sepilho ou com a lenha.
Segundo Lourival da Silva, sócio proprietário da Cemisil, a decisão deve-se à necessidade de aumentar sua competitividade. “A queima a sepilho não garante a qualidade da telha, mas o custo final do produto é menor. Abrimos mão da qualidade porque não poderemos absorver novos aumentos”, disse.