Mercado

Cai exportação de açúcar e crescem estoques de passagem

As exportações de açúcar voltaram a recuar no mês de março e a preocupação se volta aos estoques de passagem, que estariam muito elevados às vésperas da entrada de uma grande safra. O Brasil exportou em março 910 mil toneladas (entre açúcar bruto e refinado), 17% menos que as 1,161 milhão em igual mês de 2007. No acumulado do trimestre, o recuo é de 18,5% em relação a igual período de 2007, com queda de 4,098 milhões de toneladas para 3,338 milhões de toneladas. Em março, o descontos no porto para o açúcar brasileiro foi de 37 pontos, o que indica maior oferta interna. “Em março de 2007, havia prêmio de 20 pontos no porto”, compara Mário Silveira, analista de gerenciamento de risco da FCStone.

A partir de maio a safra 2008/09 no Centro-Sul começa a engrossar e a expectativa é de uma produção de 28 milhões de toneladas, ante as 25,6 milhões de toneladas do ciclo 2007/08. Há versões divergentes sobre os estoques de passagem, que passam por 100 mil toneladas a 3 milhões, com a maior parte de analistas apostando entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas.

“Acreditamos que está entre 1 milhão e 1,5 milhão”, diz José Carlos Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop). “Trata-se de um estoque alto, mas para os patamares da produção no passado. Para a atual não é tão expressivo”, avalia Toledo.

Ele acredita que, apesar dos estoques altos do açúcar na Índia, este ano haverá muitas oportunidades de exportação do produto pelo Brasil. “Nunca tivemos tanta pressão nos preços das commodities. Os estoques americanos estão baixos, e o custo alto do açúcar de beterraba vai abrir o mercado europeu”, acredita Toledo.

Considerando a produção de açúcar do mês de abril, Júlio Maria Borges, da JOB Consultoria, acredita que o estoque em 1 de abril será de 1 milhão de toneladas. “É bastante. Este ano haverá problema de destinação do açúcar. Temos ainda um excesso de oferta mundial. Há informações sobre uma safra pequena na China, país, no entanto, que está mais próximo do mercado da Índia de onde trazer açúcar sai a um custo menor, sobretudo por causa do frete”, avalia Borges.

Para Silveira, da FCStone, os estoques de passagem altos e a grande produção de açúcar estão em um cenário de mercado internacional “menos ativo”. “Os grandes importadores, como a Rússia, investiram para fortalecer produção própria, sem contar da força da Índia, que quer encerrar esta safra com 3,5 milhões de toneladas de açúcar exportados”, pondera o analista.

No primeiro trimestre deste ano, a Rússia importou 13,5% menos açúcar do Brasil que em igual período de 2007. O recuo foi de 802 milhões de toneladas para 694 milhões de toneladas. A retração dos russos deve perdurar, pelo menos, até 1 de maio, último mês em que vigora a taxa de importação maior, que saltou de US$ 140 por tonelada para US$ 220. Plínio Nastari, da consultoria Datagro, já declarou que estima que em três anos a Rússia atingirá sua auto-suficiência em açúcar, quando não importará mais o produto do Brasil.

O especialista da FCStone acrescenta ainda que o excesso de oferta de açúcar no mercado brasileiro também preocupa as usinas no que diz respeito a logística. “Já há preocupações sobre onde estocar esse produto no pico da safra. Possivelmente, teremos todos esses problemas no pico da safra”, avalia Silveira.