O Espírito Santo, com 46.184,10 km2 – o equivalente a 0,5% do território brasileiro – tem um sistema fundiário formado por pequenas propriedades rurais, onde predomina a agricultura familiar. A cafeicultura, presente na maioria das propriedades, está ainda entre as atividades econômicas que mais empregam no Espírito Santo. Em um Estado com características tão peculiares, qual seria o cenário mais provável, nos próximos 20 anos, para o agronegócio? “Temos boas perspectivas de crescimento e de desenvolvimento, e o agronegócio será destaque no cenário da nossa economia”, aposta o presidente do Incaper, Enio Bergoli da Costa. Ressaltando que “nenhuma nação desenvolvida no mundo tem agricultura frágil”, Bergoli projeta a expansão das atividades ligadas ao agronegócio em três vertentes ou grupos. Todas, destaca, terão sua importância, e a consolidação das três âncoras alavancará o segmento na economia capixaba. Atividades não-agrícolas no espaço rural; cadeias produtivas com presença forte ou mais localizadas em determinados espaços; e cadeias produtivas que geram muita renda e muitos empregos, presentes em vários espaços. Essas são as três vertentes que direcionarão o agronegócio no Estado nas próximas décadas, destaca Bergoli. Sem petróleo. O presidente do Incaper destaca, entretanto, que o agronegócio é um dos setores cujo desenvolvimento não depende diretamente da cadeia do petróleo e gás. Ele explica que todas as nações desenvolvidas, com elevados indicadores de qualidade de vida, tem o agronegócio forte e como setor estratégico. E vai além: “Nenhuma nação no mundo, entre as que estão em desenvolvimento como o Brasil, China, Índia, Rússia, conseguirão crescimento sustentável sem um agronegócio forte.” E desenvolvimento, é bom lembrar, é diferente de crescimento. Hoje há nações com alta renda per capita, mas com má distribuição de renda. Há regiões com concentração de renda e e outras com baixo IDH, como o Oriente Médio. “A procura por produtos saudáveis para consumo nos dá a convicção de que o agronegócio terá ainda mais importância econômica para o país.” Túnel do tempo Como era o agronegócio:
No pós-guerra, em 1945, era importante na geração e produção de alimentos para matar a fome das pessoas Como é hoje: Deixou de ser fornecedor de alimentos apenas para matar a fome e incorporou a preocupação com a geração de alimentos saudáveis a geração de alimentos com mais fibras a geração de energias alternativas (álcool, biodiesel) a solução de problemas urbanos, como água a solução de problemas sociais (geração de empregos, segurança alimentar)
CONHEÇA O FUTURO DO AGRONEGÓCIO CAPIXABA
Agroturismo
Atividades denominadas não-agrícolas no espaço rural. Representadas pelas atividades: agroturismo, artesanato, agroindústria artesanal e serviços especializados no meio rural. “Esse grupo é o que mais cresce e em 20 anos as atividades não-agrícolas vão gerar mais renda e emprego do que a atividade agrícola”, aposta o presidente do Incaper. Hoje os empregos no campo, em sua maioria, são mal remunerados. Só que muitas das funções para as atividades não-agrícolas exigirão capacitação. Nos serviços especializados, será necessário o conhecimento de outras línguas. A projeção é de que, em 20 anos, várias regiões do Espírito Santo estarão muito parecidas com o interior da Itália de hoje, onde o conceito urbano é muito próximo do rural. “O diferencial, até pejorativo, entre o playboy e o jeca não existirá mais”, aposta. A chave, assegura, “é agregar valor”, e as famílias que desenvolverem alguma atividade não-agrícola em suas propriedades terão o dobro da renda comparadas com aquelas que não tiverem preocupação em aumentar a renda. Cafés especiais e frutas Cadeias em grandes propriedades. Cafeicultura, fruticultura e silvicultura. A tendência é ampliar a produção de cafés de qualidade.
O grande desafio para a cafeicultura capixaba, em 20 anos, é ampliar a exportação de café solúvel e torrado e diversificar o aproveitamento do produto, com a utilização, por exemplo, em sorvetes e doces. Na fruticultura haverá grande diversificação da cadeia com o aumento da área plantada e dos grupos de frutas de clima tropical ou temperado, para o mercado interno ou externo. O Estado continuará sendo referência para o mamão, maracujá e abacaxi. Para a silvicultura, o cenário é de expansão da área de florestas plantadas para fornecer matéria prima para os pólos de celulose, papel, moveleiro, construção civil e energia.
Com a tecnologia desenvolvida, o crescimento do eucalipto no Brasil é o mais rápido do mundo, tornando-se um estímulo para os produtores. Para a expansão da área plantada de florestas, o ideal será ações conjuntas que envolvessem também os produtores dos Estados vizinhos da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Leite, cana e especiarias Cadeias localizadas de acordo com a vocação e a etnia. Pecuária de leite, avicultura, aqüicultura, floricultura, raízes, especiarias e cana-de-açúcar. A produção de aves para postura e carne está concentrada nos municípios da Região Serrana. Essa cadeia fornece o esterco para a adubação das áreas utilizadas para a produção de hortaliças e frutas. A aqüicultura deverá se expandir no município de Linhares, que forma o maior complexo lagunar do país, e também na região próxima à foz do Rio Doce.
Outra atividade com grande potencial é a floricultura na região de montanha e em outras cidades de clima quente. Raízes, como gengibre, cará e inhame, produzidas na montanha para exportação, deverão ter a produção consolidada. As especiarias (pimenta-do-reino, pimenta-malagueta, pimenta-rosa) já são produzidas na Região Norte. O Espírito Santo, inclusive, é o maior exportador nacional de pimenta-do-reino.
A cana-de-açúcar tem tudo para ser o destaque do grupo. A produção em larga escala será para o álcool – o Japão quer importá-lo – e de açúcar. Granjas da década de 30 HISTÓRIA.
A avicultura capixaba nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, a partir da década de 30. O então prefeito de Domingos Martins, Octaviano Santos, conseguiu investimentos da ordem de 25 mil cruzeiros velhos para a atividade. O secretário administrativo da Aves, Nélio Hand, informa que foi fundada uma entidade governamental denominada Cofai e uma cooperativa que, na década de 60, incentivaram a instalação de granjas visando ao consumo do “farelinho”, um derivado do trigo industrializado em Vitória até hoje.