Mercado

Bush deixa o Brasil com acordo para formar mercado de álcool

Depois de menos de 24 horas no Brasil, o presidente norte-americano, George W. Bush leva do Brasil um acordo estratégico firmado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o desenvolvimento de um mercado mundial de etanol, mas não cedeu no principal: a redução das tarifas impostas sobre o etanol brasileiro ao entrar no mercado americano.

Ele afirmou ainda que os EUA vão investir US$ 1,6 bilhão no prazo de 10 anos em pesquisas adicionais para que possam ter fontes alternativas de energia. “Já investimos US$ 12 bilhões em novas tecnologias que vão permitir alcançar independência econômica e um ambiente de melhor qualidade. Espero que possamos fazer isso juntos”, disse Bush. É justamente nesse aspecto que o Espírito Santo, que está se consolidando como um novo pólo de álcool do país, deverá ser beneficiado. Investimentos norte-americanos podem acabar gerando mais riqueza para o Esado, como mostra a página 18.

Ao anunciar o acordo, Bush e Lula fizeram discursos alinhados. Por um lado, Bush afirmou que energia é uma questão de segurança para os EUA. De outro, Lula disse que a parceria com os EUA para fazer o etanol ganhar o mercado mundial é “estratégica”.

O acordo prevê ajuda dos EUA para o desenvolvimento da produção de etanol de celulose e para transferência da tecnologia de combustíveis alternativos para outros países. Além disso, os dois países se comprometem a avançar na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia para biocombustíveis. EUA e Brasil também se comprometem a trabalhar em conjunto para levar os benefícios dos biocombustíveis para outros países, principalmente os vizinhos dos norte-americanos.

“Ponto G”. A harmonia só não foi a mesma na questão da Rodada de Doha – que trata da redução das taxas protecionistas do comércio mundial. “Prazos são perigosos quando você está lidando com muitos países”, disse.

Mesmo reconhecendo o desafio de destravar Doha, Lula pediu pressa. “É necessário caminhar mais para que Brasil e Estados Unidos cheguem ao ponto G das negociações.” O “ponto G”, identificado pelo médico alemão Ernst Gräfenberg, é uma concentração de terminações nervosas considerado uma zona erógena no corpo feminino.

Para Lula, o avanço nas negociações depende agora de questão política: “Acho que devemos dar uma ordem para nossos negociadores: façam um acordo o mais rápido possível”. Para ele, o desenvolvimento de países pobres, que teriam mais oportunidades com o livre comércio, depende desse acordo.

“Quando se depende do petróleo estrangeiro temos problemas de segurança nacional. Com o etanol, vamos diminuir a dependência do petróleo. A diversificação é do interesse dos nossos países”

George W. Bush – Presidente dos EUA

“Se eu tivesse essa capacidade de persuasão que você pensa que eu tenho, quem sabe eu já teria convencido o presidente Bush a tantas outras coisas que eu não posso nem falar”

Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente do Brasil

Etanol de celulose e domínio mundial

Décio Luiz Gazzoni

Acredita-se que a visita do presidente dos Estados Unidos George W. Bush, teoricamente motivada pelo interesse na discussão do etanol, seja o sinal definitivo para o progresso do País. Mas muito antes de resolvermos questões de relações exteriores – como a abertura de mercado para o álcool brasileiro e a sobretaxação aos produtos agrícolas – precisamos enxergar melhor nossos problemas internos.

Se não dissolvermos o obscurantismo científico e não investirmos adequadamente em inovações tecnológicas, principalmente na biotecnologia, condenaremos mais uma geração a ouvir o batido discurso de que o Brasil é o país do futuro.

Na produção de etanol a partir de cana-de-açúcar, com as ferramentas da biotecnologia, o Brasil é o país mais competitivo do planeta, com os americanos ameaçando nossa hegemonia ancorados em bilhões de dólares de subsídios ao milho. Porém, tudo pode mudar em um futuro muito mais próximo do que se imagina, como bem alertaram o ex-ministro Roberto Rodrigues e o Premio Nobel de Química, Allan McDiarmid, em evento realizado em Brasília, no final de 2005.

O presidente Bush resolveu investir fortemente em produtos energéticos da biomassa e seu governo não ficou apenas no discurso, abriu as burras do Tesouro americano para financiar as inovações tecnológicas.

Para ilustrar, quero citar o documento Breaking the biological barriers to cellulosic ethanol – a Research Agenda. Trata-se de um relatório oficial do governo norte-americano, que traça um caminho para a obtenção de bactérias que produzam etanol a partir de celulose.

Por que os Estados Unidos perseguem este objetivo? Porque produzir celulose é muito mais barato que produzir açúcares ou amido. Quem dominar esta tecnologia, dominará a produção de etanol no mundo.

Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) e do Painel Cientifico Internacional de Energias Renováveis do Conselho Internacional de Ciências

Carro bicombustível

Mostra. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou ontem ao presidente dos EUA, George W. Bush, o funcionamento do carro bicombustível brasileiro. Depois da conversa, Lula mostrou a Bush um pé de cana-de-açúcar, de onde é extraído o álcool.