O BTG Pactual elevou o peso de ações de empresas expostas ao exterior (exportadoras ou com operações fora do país) em seu portfólio deste ano. “A fatia de nossa carteira com exposição ao setor externo está entre 30% e 40%. No ano passado, chegamos a ter somente 10%”, disse ao Valor o estrategista de ações de Brasil do banco, Carlos Sequeira.
A ideia, nesse caso, é captar ganhos com um cenário de real depreciado e melhoras específicas na economia global. Estão no portfólio empresas como Vale – que ganha com uma recuperação do crescimento chinês – Suzano, Embraer, BRF e JBS. “Não prevemos rupturas na Europa”, afirma. Ao longo do ano passado, o banco reduziu sua exposição a consumo e varejo.
Ao mesmo tempo, apesar de ainda ser a tônica das escolhas, a economia brasileira passa por um momento delicado e este é um dos principais motivos que fazem o Índice Bovespa (Ibovespa) ficar atrás dos indicadores dos Estados Unidos, afirma o executivo. Enquanto S&P 500 e o Dow Jones flertam com máximas históricas, o Ibovespa cai perto de 7% no ano e está cerca de 30% longe do topo. “A expectativa de crescimento do país vem sendo rebaixada quase que semanalmente. E, para confundir ainda mais o mercado, a inflação está em alta”, afirma Sequeira.
Este quadro, diz ele, deixa o governo em uma situação delicada quando o assunto é formação de política econômica. “O governo não pode abusar nas medidas de incentivo, senão fomenta a inflação”, diz. “O investidor olha para tudo isso, vê uma grande incerteza e se pergunta o que vai ser do Brasil em 2013.” Quando não há consenso no mercado em relação às expectativas, os investidores se retraem, afirma.
As incertezas limitam a alta do Ibovespa em 2013, que deve ser de 15%, ou no máximo 20%, para a casa dos 68 mil pontos, de acordo com a estimativa do estrategista. Na opinião de Sequeira, a valorização esperada para o índice indica que o ano será “razoável”, com desafios cada vez maiores para o gestor, que terá de garimpar dentro de cada setor preferido.
O Ibovespa, segundo o executivo, não sobe mais porque alguns papéis de peso, como Petrobras, não têm perspectivas positivas para 2013. As ações da estatal de petróleo, que representam 10% do Ibovespa, não estão na carteira do BTG Pactual. Para Sequeira, o investidor deve, em 2013, comprar na Bovespa ações de qualidade, mesmo que não sejam barganhas. Os setores preferidos do BTG Pactual são educação, consumo, infraestrutura e bens de capital.
O trabalho de escolha segmentada, que já vinha sendo feito, agora vem acompanhado da análise individual justamente porque os setores preferidos deste ano são praticamente os mesmos de 2012. “Não basta mais escolher um setor, que já foi importante no ano passado. Agora, se fizer apenas isso, o gestor pode pegar uma ação cara dentro de um segmento bom. Tem que olhar os papéis que fazem sentido no potencial de valorização”, diz.
O estrategista diz que o Ibovespa pode até parecer barato, já que sua performance foi uma das piores em 2012 em relação a seus pares. Em dólares, na comparação com bolsas da América Latina, o índice brasileiro foi o único que caiu no ano passado, com perda de 1,42%. O principal rival na preferência dos investidores, o México, subiu 27,05%.
“Mas os setores favoritos já estão com relação preço/lucro alta”, afirma. O ramo de educação, por exemplo, subiu 112% no ano passado. Varejo avançou 70%.
Apesar dessa situação, ele ainda vê oportunidades em alguns papéis destes segmentos.
Em educação, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior, retira risco de crédito das empresas e oferece aos estudantes uma opção barata de financiamento alternativo. Kroton e Anhanguera são as principais escolhas.
Em consumo, Sequeira mostra preferência por empresas cujas vendas não dependem fortemente do crédito, ou seja, que negociam produtos menores e mais baratos. Duas oportunidades citadas são Pão de Açúcar e Brazil Pharma. Outra escolha em consumo é Cosan, produtora de etanol e distribuidora de combustíveis, que tem possibilidade de aumento de margens.
Infraestrutura também figura na lista de segmentos preferidos, com empresas como CCR e Santos Brasil. Para Sequeira, depois de entrar em embates com os setores elétrico e financeiro, o governo tem dado cada vez mais sinais de que precisa do setor privado. “Há uma série de projetos de infraestrutura para o ano. Se o governo quiser fazer o Produto Interno Bruto (PIB) crescer via investimentos, infraestrutura, precisa ter um papel central”, afirma o estrategista.
O setor de alimentos acaba sendo uma das escolhas que engordam a fatia de exposição ao setor externo do portfólio do BTG Pactual. “Mantenho o setor na carteira desde 2012, usando papéis diferentes”, diz. Segundo ele, a média do câmbio em 2012 beneficiou exportadoras como JBS e Marfrig. Os mercados também estiveram favoráveis a seus produtos. “Continuo acreditando e tenho JBS na carteira.”
Outra história favorável, segundo ele, é BRF. “Já não é um papel tão barato, mas tem todos os benefícios da fusão entre Sadia e Perdigão”, diz. Outro ativo que amplia a fatia de companhias ligadas ao exterior na carteira é Vale. “A ação cedeu muito e as discussões sobre o rumo do câmbio afetaram o setor de minério. Mas faz sentido ter Vale na carteira nesse nível de preço.”
Do outro lado, além de Petrobras, o BTG Pactual evita se posicionar no setor de bancos, que Sequeira considera controverso. Na visão dele, o embate com o governo ficou em 2012, mas o segmento tende a enfrentar um ambiente de forte concorrência. Outros setores que ficam fora das escolhas do BTG Pactual são energia elétrica e telecomunicações. “Temos pouca exposição em energia, mas algumas ações caíram tanto que começam a aparecer casos interessantes. Tenho Cemig na carteira.”