O Brasil, maior produtor de álcool de cana-de-açúcar do mundo, vê o Japão como seu maior potencial mercado para biocombustíveis no futuro, mas as garantias de abastecimento permanecem sendo uma questão a ser enfrentada por brasileiros, afirmaram analistas nesta segunda-feira.
Durante visita de uma missão comercial ao Japão na semana passada, a maior cooperativa do mundo de açúcar e álcool, a Copersucar, anunciou ter assinado um acordo para vender 15 milhões de litros de álcool para uma distribuidora independente de combustíveis japonesa, a Kotobuky Nenryo Co.
Considerando os preços atuais de mercado, o acordo deve ter resultado em um negócio de US$ 4 milhões. Os embarques devem começar nos próximos dois meses.
O Japão é o quarto maior mercado estrangeiro para o álcool brasileiro. A segunda maior economia do mundo importou cerca de 149 milhões de litros em 2004, quando as exportações totais de álcool do Brasil atingiram um recorde de 1,8 bilhão de litros.
Mas o potencial mercado para o álcool no Japão, sede do Protocolo de Kyoto, é bem maior, disse Luiz Carlos Correa Carvalho, analista chefe da consultoria Canaplan e presidente da Câmara Brasileira de Açúcar e Álcool.
“A chave para fazer do Japão o principal mercado para a álcool brasileiro depende de estabelecer credibilidade e segurança”, afirmou Carvalho.
“O Brasil está em um processo de assegurar ao Japão que o seu setor de cana pode suprir a demanda”, disse.
Em 2003, o Japão aprovou a mistura voluntária de 3% de álcool na gasolina, para atender exigências ambientais do Protocolo de Kyoto e reduzir o efeito estufa.
Se o Japão, o segundo maior consumidor de gasolina do mundo, tornar obrigatória a mistura de 3 por cento de álcool o país teria de importar cerca de 1,8 bilhão de litros do combustível, ou o equivalente ao total das exportações brasileiras anuais, acrescentou Carvalho.
“Se eles tornarem obrigatória uma mistura de 5%, isso significaria 3 bilhões de litros de importações”, completou. “Nessa situação, a iniciativa privada e os governos dos dois países estão tentando criar um mercado.”
Durante a visita da missão brasileira ao Japão, que incluiu a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de líderes da indústria, os dois países formaram uma força-tarefa que vai tentar definir termos seguros para suprimento, os maiores produtores e distribuidores e os detalhes técnicos do acordo.
Mas alguns traders mostram ceticismo de que o Japão poderia tornar obrigatório o uso do etanol em um futuro próximo sem um acordo formal entre o governo brasileiro e os fornecedores de álcool.
“Ele irão levar em conta o peso da Petrobras ou de um acordo de pelo menos 50 ou 100 usinas de álcool com o governo brasileiro antes de firmarem esta resolução”, disse um trader de álcool europeu.
A Petrobras é a estatal brasileira responsável pela produção de gasolina e também pela distribuição da maior parte do álcool no mercado interno. Atualmente, o Brasil mistura 25% de álcool à gasolina nacional.
A Petrobras, a Vale do Rio Doce e o grupo japonês Mitsui assinaram um acordo na semana passada para estudar alternativas para a construção de um corredor para transporte do álcool das indústrias brasileiras aos portos.