O Brasil provoca um misto de admiração e pânico entre agricultores franceses. No caso de açúcar e etanol, o temor é ainda maior. Os franceses admitem que perderão espaço para o Brasil em terceiros mercados, mas querem impedir que o país exporte para a UE.
Há muito açúcar no mercado mundial. Em 2003, a produção foi de 132,8 milhões de toneladas, para um consumo de 128 milhões de toneladas. O consumo mundial aumenta 2 milhões de toneladas por ano e, segundo os franceses, só há um ganhador: o Brasil, com seu açúcar de cana barato. Pelos cálculos de entidades agrícolas francesas, os embarques brasileiros alcançarão 30 milhões de toneladas em 2010, enquanto a Europa deixará de exportar as 5 milhões atuais.
A produção global de açúcar é repartida entre 70% proveniente da cana e 30% da beterraba. Desde os anos 70, o volume de cana explodiu, impulsionado pela produção brasileira, até atingir um diferencial de 58 milhões de toneladas entre as produções de cana e de beterraba, há dois anos.
Para Daniel Collard, presidente da Federação das Cooperativas de Produtores de Beterraba, não tem jeito: a Europa só poderá salvar a beterraba se Bruxelas protegê-la da concorrência do Brasil, com altas tarifas de importação para impedir a entrada do produto brasileiro no mercado europeu. “O Brasil distorce a concorrência em três fatores: social, ambiental e pela sua moeda desvalorizada”, diz. “É incrível que a França apóie o Brasil no FMI, o país embolse empréstimos e depois a moeda se desvalorize a esse ponto”, reclama Alain Comissaire, da Cristal Union.
Numa visita à refinaria de Arcis-sur-Aube, Collard e diretores do grupo não pararam de fazer referências ao endurecimento de regulamentações européias, com aumento dos custos. “Vocês têm isso no Brasil?”, indagavam com freqüência.
Os escritórios da refinaria estão sendo deslocados a 25 metros de distância dos fornos de produção. Um grande forno vai ser desmontado porque Bruxelas diz que ele está superado. Um enorme tanque está sendo construído para toda a água usada ser controlada antes de despejada na natureza.
Os clientes aumentam as exigências de segurança. Temendo sabotagens terroristas sobre o açúcar que compram, empresas como Coca-Cola exigem que as usinas controlem duramente quem entra e quem sai e que o produto não fique exposto. Assim, o açúcar vai direto para os silos sem que ninguém possa vê-lo, tocá-lo ou experimentá-lo. Por razões de segurança exigida pelos compradores, todo o circuito é fechado.
Na UE, 70% dos compradores são indústrias e só 30% do açúcar vai para o consumidor final. “É por isso que o Brasil não venderá açúcar branco para a Europa” diz Jean Michel Henry, assessor dos agricultores. “O cliente quer controle total e não deixará o produto vir de longe”.