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Brasil propõe à China estratégia para formar parceria no agronegócio

O Brasil fez ontem uma proposta concreta à China para formar uma comissão de alto nível que estudará estratégias de parceria na área do agronegócio entre os dois países. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, reuniu-se com o vice-ministro da Agricultura da China, Qi Lingfa, e disse que a iniciativa se encaixa no planejamento de longo prazo do governo de Pequim e no contexto dos 30 anos de reatamento de relações diplomáticas entre os dois países.

Rodrigues, que ontem participou do painel sobre agricultura e suprimento alimentar na Cúpula de Negócios da China promovida pelo World Economic Forum, expôs a Qi Lingfa as razões para sua proposta: a expansão da área agrícola no Brasil vis-à-vis o crescimento da demanda da China em alimentos. A urbanização crescente do país levará a uma mudança na oferta interna, justificou o ministro. “Fiz uma referência a alimentos e energia (álcool) e mostrei que a idéia é montar um plano estratégico em 10 ou 12 anos para apoiar o programa de desenvolvimento rural aqui e lá com base na complementariedade de interesses”.

O ministro da Agricultura propôs o envio à China, em 40 dias, de uma delegação de alto nível para fazer uma análise prévia da proposta. Os chineses disseram que irão ao Brasil no primeiro trimestre do ano que vem e apresentarão um protocolo de intenções para constituir o grupo de trabalho. Eles também se comprometeram a transformar em projeto a proposta brasileira, que será enviada à China com a visão brasileira detalhada sobre o assunto. Nos próximos dias haverá troca de documentos.

“A reunião foi muito positiva”, disse Roberto Rodrigues. O planejamento de complementariedade na área de alimentos e energia abrange carne, café, frutas, tripa suína, algodão, milho e álcool. Nem todos os produtos que farão parte do projeto são exportados para a China.

“Foi um passo importante. Encaixa-se na celebração dos 30 anos de relacionamento entre o Brasil e a China e no contexto da visita do presidente Lula a Pequim, em maio”. Para o ministro, o governo chinês deverá autorizar as vendas brasileiras de carnes para a China; faltam apenas alguns procedimentos burocráticos.

O diretor de exportação da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Joaquim Libânio Ferreira Leite, diz que “está nascendo o mercado chinês para café torrado e moído, o que nos motiva muito a trabalhar na China”. Há 20 anos, compara, o Japão não consumia, hoje consome 7 milhões de sacas ao ano. A China produz pouco café em duas províncias: Yunnan e Hainan. Em dez anos, a expectativa é que o país passe a consumir até 3 milhões de sacas/ano. “O Brasil pode participar bem desse novo mercado. É o país mais competitivo em matéria de qualidade e preço. O chinês preza o relacionamento com o Brasil, dá valor a um grande mercado para fazer grandes volumes de negócio”, explica o diretor da Cooxupé, que há quatro anos visita a China e quer firmar a marca da cooperativa “Prima Qualità” no mercado chinês.