
Com a crescente frota de aeronaves no país e com o compromisso internacional do setor de aviação de até 2050 reduzir as emissões de carbono pela metade em relação aos níveis de 2005, o vice-presidente da Embraer, Emilio Matsuo, revelou que o “desafio é enorme”, mas o único caminho é o biocombustível.
Para o dirigente, o Brasil, que já é referência em biocombustíveis para automóveis, tem agora a oportunidade de ser protagonista também no fornecimento do insumo de cana para aviação.
Segundo a Embraer, o volume de querosene de aviação utilizado no mundo é de cerca de 250 bilhões de litros por ano – dez vezes o volume de etanol produzido no Brasil.
O presidente da Fapesp, Celso Lafer, afirmou que a instituição tem tido grande preocupação com o tema e, por isso, criou, junto com a Boeing e a Embraer, o projeto de pesquisa Biocombustíveis Sustentáveis de Aviação no Brasil.
De acordo com o vice-presidente da Boeing Pesquisa e Tecnologia, Al Bryant, o bioquerosene é tecnicamente viável, seguro e aprovado para uso comercial pela ASTM (American Society for Testing and Materials). “As empresas aéreas querem ter uma alternativa ao combustível à base de petróleo. O gargalo principal é não ter quantidade suficiente de matérias-primas e do produto. Por isso, precisamos desenvolver a cadeia de suprimentos e contar com a ajuda do governo para estabelecer políticas e incentivos para alavancar a indústria”, explicou. Além disso, na opinião de Bryant, o preço precisa ser mais competitivo.
A mesma preocupação foi demonstrada pelo presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil, Walter Bartels. “Para avião, não tem acostamento. Então, precisamos de um combustível com muita qualidade”, enfatizou. Ele também lembrou que o Brasil já é pioneiro em aviação sustentável. O avião agrícola Ipanema, da Embraer, já funciona com etanol.
Para Bartels, a aviação foi o setor que mais cresceu no último século, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento econômico.
No Brasil, pelo segundo ano consecutivo, as vendas de passagens aéreas superaram as de ônibus nas viagens interestaduais, informou o presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas, Eduardo Sanovicz. “Não estamos mais tratando de um modal de transportes que atende apenas nicho. Nos últimos seis anos, o preço médio das passagens aéreas caiu 48% no país e a demanda crescente vem aumentando o número e o consumo de combustível, enfatizou.
Meio ambiente
Estimativas apontam que 40% dos custos operacionais das companhias aéreas estão associados ao combustível. Nesse sentido, o professor Luís Cortez, da Universidade de Campinas (Unicamp), lembrou que os biocombustíveis são a grande maneira de reduzir as emissões de carbono, mas que “ninguém quer pagar mais por eles”. Para Cortez, isso aumenta o esforço da pesquisa. “É desafio também para a nossa agricultura, que agora vai nos ajudar a construir uma indústria aeronáutica sustentável”, ressaltou.
O professor da Unicamp ainda lembrou a necessidade de que os combustíveis em desenvolvimento sejam drop in, ou seja, sejam compatíveis com o querosene fóssil, de modo que possa ser utilizado sem necessidade de adaptações nas aeronaves.
Especialistas confirmam que a fabricação do querosene de cana-de-açúcar utiliza um processo de fermentação “primo”, ou semelhante, ao usado na produção do etanol voltado para carros.Um jato Embraer E195, da Azul, transportando convidados, realizou, em 19 de julho, um voo de ida e volta entre Campinas e Rio de Janeiro, abastecido por uma mistura de 50% de querosene de aviação e 50% de AMJ 700, um hidrocarboneto sintético produzido pela empresa de biotecnologia Amyris.
O voo, experimental, foi o primeiro da história a utilizar bioquerosene de aviação derivado de cana-de-açúcar.