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Brasil lidera queimadas na américa do sul com quase 72% dos focos em 48 horas

Seca extrema e ações humanas potencializam incêndios florestais, afetando biomas e produção agrícola

Brasil lidera queimadas na américa do sul com quase 72% dos focos em 48 horas

O Brasil concentrou 71,9% das queimadas registradas em toda a América do Sul, nos últimos dois dias da semana passada. Segundo dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram contabilizados 7.322 focos de incêndio no país até a última sexta-feira (13). A Bolívia ficou em segundo lugar com 1.137 focos (11,2%), seguida pelo Peru (842 focos ou 8,3%), Argentina (433 focos ou 4,3%) e Paraguai (271 focos ou 2,7%).

Desde o início de 2024, o Brasil já soma 180.137 focos de incêndio, o que representa 50,6% das queimadas da América do Sul no período. O número é alarmante, com um aumento de 108% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram registrados 86.256 focos até 13 de setembro.

Mato Grosso lidera entre estados com mais queimadas

Entre os estados brasileiros, Mato Grosso lidera com 1.379 focos de incêndio nas últimas 48 horas, seguido por Amazonas (1.205), Pará (1.001) e Acre (513). O município de Cáceres, no Mato Grosso, foi o mais atingido, com 237 focos, enquanto Novo Aripuanã (AM) e São Félix do Xingu (PA) registraram 204 e 187 focos, respectivamente.

O bioma mais afetado foi a Amazônia, que concentrou 49% das áreas queimadas nos últimos dois dias. Em seguida, vêm o Cerrado, com 30,5%, a Mata Atlântica (13,2%), o Pantanal (5,4%) e a Caatinga (1,9%).

Indícios de ações coordenadas e impactos climáticos

A Polícia Federal (PF) investiga a possibilidade de que parte dos incêndios florestais no Brasil seja fruto de ações coordenadas. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, já havia mencionado essa hipótese, ordenando medidas para combater os incêndios na Amazônia e no Pantanal.

O uso do fogo em atividades agrícolas está proibido no Pantanal e em grande parte da Amazônia, sendo considerado crime ambiental, com penas que variam de dois a quatro anos de prisão. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima reforça que, além de ações humanas, as mudanças climáticas também intensificam as queimadas, provocando estiagens prolongadas em biomas como o Pantanal e a Amazônia. Em 2024, 58% do território brasileiro enfrenta algum nível de seca, e em um terço do país, a seca é considerada severa.

As queimadas em larga escala também têm impactos graves na saúde pública, principalmente entre idosos e crianças, que são mais vulneráveis a problemas respiratórios. Diversas cidades brasileiras foram encobertas por nuvens de fumaça, prejudicando a qualidade do ar. As autoridades recomendam que a população evite atividades físicas ao ar livre e minimize a exposição ao ar contaminado.

Prejuízos para produtores de cana-de-açúcar em São Paulo

A ORPLANA (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) alertou para os impactos das queimadas nas áreas rurais, especialmente em São Paulo. Entre 23 de agosto e 10 de setembro, foram identificados mais de 3 mil focos de incêndio, resultando em 181 mil hectares de canaviais queimados. O prejuízo econômico ultrapassa R$ 1,2 bilhão, devido à destruição de cana em pé, soqueiras e à deterioração da qualidade da matéria-prima.

De acordo com José Guilherme Nogueira, CEO da ORPLANA, os produtores ainda estão avaliando os danos e planejando os próximos passos. O custo para replantar um hectare de cana é de aproximadamente R$ 13,5 mil, e mesmo as áreas de rebrota que não precisarem de replantio imediato exigirão manejo e nutrientes, aumentando os custos. “O colchão de palha, que ajudava na retenção de água e no controle de ervas daninhas, foi queimado, deixando o solo mais exposto e vulnerável”, explicou Nogueira.

A ORPLANA representa mais de 12 mil produtores de cana-de-açúcar, e com as perdas significativas, o setor espera que a cana só consiga rebrotar de forma satisfatória quando as chuvas retornarem de maneira uniforme. “Ainda é cedo para fazer previsões sobre o impacto na safra futura, pois dependeremos das chuvas nos próximos meses”, concluiu Nogueira.

Projeções para a próxima safra

Diante dos prejuízos causados pelas queimadas, a taxa de replantio e a área disponível para a colheita em 2025 podem ser significativamente reduzidas, especialmente se as chuvas não ocorrerem de forma consistente. Além disso, o cenário climático incerto, com longos períodos de seca, pode impactar diretamente o volume e a qualidade da produção na próxima safra.