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Brasil é um dos mais preparados contra a crise, diz Soros

O Brasil é uma das nações mais preparadas para enfrentar a crise de crédito mundial, na opinião do mega-investidor George Soros. “Com agricultura, minérios e crescimento doméstico, o Brasil é uma das economias mais bem posicionadas atualmente (para enfrentar a crise)”, disse Soros ao Estado. “O Brasil é uma das economias mais prósperas do mundo”, disse Soros, lembrando que ele próprio investe em produção de etanol no País.

Soros disse ontem que as perdas com a crise de crédito serão superiores aos quase US$ 1 trilhão estimados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). “Ainda não vimos o fundo do poço dos preços imobiliários, então essa estimativa de US$ 1 trilhão deve aumentar.”

Ele concedeu entrevista a jornalistas para lançar seu novo livro, O novo paradigma dos mercados financeiros: a crise de crédito de 2008 e o que ela significa. O livro foi lançado em formato eletrônico pela Public Affairs e será publicado em papel em maio.

O lendário financista acredita que esta seja a pior crise desde a Depressão dos anos 30, e afirma tratar-se da explosão de duas bolhas – a bolha imobiliária e o que ele chama de superbolha de crédito. “A bolha de crédito vem se formando nos últimos 25 anos, e é resultado da expansão desenfreada do crédito e da idéia errônea de que os mercados se autocorrigem”, disse Soros. “A desregulamentação que começou nos governos Reagan e Thatcher levou a diversas crises que só foram contornadas por causa da intervenção do governo, e não por uma correção natural do mercado.”

Soros prega um aumento da requisição de margens e redução da alavancagem (redução da quantidade de recursos que as instituições podem tomar emprestado). Segundo ele, as autoridades devem limitar a quantidade de empréstimos que as instituições podem conceder e tomar e regulamentar vários instrumentos “exóticos” de crédito. “É a mais importante mudança que os órgãos de regulamentação devem adotar para lidar com a crise.”

O investidor criticou as regras de supervisão financeira chamadas de Acordo da Basiléia II. “É uma regulamentação equivocada, pois deixa que os próprios bancos determinem os riscos que podem enfrentar”, disse. “Precisamos de um acordo da Basiléia III, que atribua riscos maiores para uma alavancagem maior.” Mas ele faz a ressalva de que não prega a volta a um ambiente com excesso de regulamentação, o que provocaria um colapso da economia.

Soros, de 77 anos, havia se aposentado, mas resolveu voltar à ativa por causa da crise. “Preciso olhar de perto meus negócios”. (Patrícia Campos Mello)