
O Brasil tem atuado em conjunto com a Itália para tentar flexibilizar a posição da União Europeia sobre o uso de biocombustíveis na descarbonização do transporte e da indústria. Segundo apuração da Folha de S.Paulo divulgada no portal Datagro, diplomatas dos dois países se reuniram ao longo do ano em fóruns internacionais para avançar em negociações internas do bloco, historicamente resistente ao uso de biocombustíveis produzidos a partir de matérias-primas agrícolas.
A aproximação não se dá, porém, em apoio direto à pauta brasileira. A Itália — país com forte indústria automobilística — tem interesse próprio na agenda, buscando reduzir emissões sem acelerar a eletrificação total da frota, processo em que a indústria europeia perde terreno para montadoras chinesas.
Na semana entre 03 a 08 de novembro de 2025, com articulação de Roma, o Conselho Europeu de Meio Ambiente se comprometeu a reconhecer o papel dos biocombustíveis no transporte rodoviário, hoje orientado quase exclusivamente para metas de eletrificação na próxima década.
Além disso, a Itália será uma das signatárias do acordo que o Brasil apresentou em 06 de novembro durante a COP30, em Belém, propondo quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis até 2035. Segundo a apuração, a Holanda também deve aderir.
O apoio ampliaria a força política do Brasil, que vê a UE como mercado-chave diante de políticas ambientais rígidas e metas obrigatórias de redução de emissões para setores industriais e logísticos.
Apesar disso, resistências seguem concentradas na Alemanha. Parte do governo alemão sustenta que biocombustíveis competem com a produção de alimentos e podem estimular desmatamento — argumentos que justificam a preferência europeia pela eletrificação e pelo hidrogênio verde.
O bloco costuma aceitar biocombustíveis apenas quando não derivados de culturas alimentares, o que exclui soja, milho e cana-de-açúcar — bases da produção brasileira.
Modelo de Transição Tecnológica e a Indústria Europeia
A Itália, por sua vez, defende um modelo de transição tecnológica mais amplo, sustentado também por sua petrolífera estatal Eni, que tem convertido refinarias em biorrefinarias.
O país argumenta que depender apenas da eletrificação pode fragilizar a indústria europeia frente à concorrência asiática e aos custos elevados de adaptação industrial.
A parceria entre Brasil e Itália deve ser reforçada na Cúpula do Clima. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidará líderes presentes a firmar compromisso para ampliar globalmente a produção de combustíveis sustentáveis. A proposta se baseia em relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), que aponta potencial para quadruplicação da oferta caso metas já anunciadas sejam de fato implementadas.
Para especialistas brasileiros consultados pela Folha, a adesão europeia é determinante.