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Brasil e África criticam barreiras americanas e européias aos biocombustíveis

Embora seja um encontro cujo tema central gire em torno das diversas formas de energias renováveis, a principal discussão do Fórum Global de Energias Renováveis, que acontece em Foz do Iguaçu, tem sido as possíveis relações entre a produção de biocombustíveis e a alta do preço de alimentos no mundo. No segundo dia do evento, o assunto voltou a ser discutido em um painel que reuniu representantes do Brasil, da Espanha, da Eslováquia e países da África.

O secretário-executivo da Comissão Interministerial sobre Mudanças Climáticas do Brasil, José Miguez, criticou a criação de barreiras não alfandegárias para os biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa. “Do ponto de vista de mudança de clima, a criação dessas barreiras estão erradas, porque na medida que você proíbe importação a esses países, que são grandes consumidores de combustíveis fósseis, você tende a retardar a solução do problema”, disse.

Ele afirmou que existem terras destinadas à agricultura que não estão sendo utilizadas, tanto na América Latina quanto na África. “O que falta é incentivo de preço, de produção. Em momento nenhum há um problema de segurança alimentar como está sendo colocado”, disse Miguez.

O representante brasileiro disse também que a área que é utilizada para biocombustíveis é pequena e que a produção desse tipo de combustíveis ajuda a melhorar os impactos das mudanças climáticas, gera empregos e reduz o custo de produção de energia.

Na mesma linha, o diretor da Rede de Pesquisa de Política Energética Africana (Afrepren), Stephen Karkezi, disse que o foco do debate não deve ser o fato de os fazendeiros americanos estarem produzindo milho para a fabricação de combustíveis ao invés de alimentos, mas sim a dependência dos países pobres do que é produzido nos Estados Unidos.

“O problema é que a África é historicamente dependente dos fazendeiros americanos para a sua comida, enquanto temos muitas terras para plantar”, disse, completando que admira o Brasil por garantir que a segurança alimentar não será afetada pela produção de etanol.

O diretor para do Instituto para Diversificação e Economia da Espanha, Jaume Margarit, disse que o tema deve ser debatido com cuidado e levando em conta as peculiaridades de cada região. Segundo ele, o objetivo da União Européia é chegar ao ano 2020 usando 20% de energias renováveis em sua matriz energética, e 10% deverá corresponder aos biocombustíveis.

Para Margarit, o atual cenário da produção de biocombustíveis é transitório, pois em breve deverão ser descobertas novas espécies que podem ser mais produtivas e menos exigentes em relação ao solo e condições climáticas.