A alta global dos custos, o foco de investidores em águas profundas e projetos estruturados e os incrementos tributários em países concorrentes devem ajudar o Brasil a manter sua atratividade. Apesar dos preços de petróleo estarem sustentadamente em alta desde 2002, os investimentos das empresas em E&P não chegaram a subir tanto quanto se esperava em 2004. Com isso, o número de descobertas também decepcionou.
Em 2004, os chamados “big bucks” (orçamento de grandes empresas ocidentais multinacionais, denominadas “Big Oil”) foram utilizados em projetos de grande porte e longo prazo. Exemplos desses projetos são a formação de consórcios multi-milionários, como a TNK-BP (na Rússia), a montagem de infra-estrutura de escoamento (Sakhalin-2 da Shell na Rússia) ou a garantia de mercados contratados (Catar-GNL da ExxonMobil). A alta do preço do aço, de 66% entre junho e dezembro de 2004, também afetou significativamente os custos de construção de dutos, deixando menos dólares para a exploração.
Esta tendência deve persistir em 2005. Analistas do Lehman Brothers, por exemplo, estimam que os investimentos em E&P pelas grandes empresas ocidentais com ações em bolsa deverão crescer modestos 5,7% no ano, atingindo um total de US$ 176,8 bilhões contra US$ 167,3 bilhões em 2004. A maior parte desses recursos será alocada em águas profundas e uma boa parte deverá ser usada para fazer frente ao incremento dos preços das sondas de perfuração, mercado aquecido em tempos de petróleo alto.
Apesar disso, o Brasil deverá manter sua atratividade para investimentos em exploração, especialmente na opinião das empresas de grande porte interessadas em águas profundas, como a Shell. Em 2005 e 2006, a Shell apostará numa agressiva campanha exploratória (talvez buscando recuperar um pouco das reservas “perdidas” em 2004). Vai jogar US$ 1,5 bilhão nos chamados “big cats” – poços capazes de encontrar reservas da ordem de 100 milhões de barris de óleo equivalente – em localidades diversas.
A empresa coloca o Brasil ao lado de Nigéria, Malásia, Brunei e do Golfo do México no seu ranking de prioridades em águas profundas; e também menciona Egito, Alasca, Dinamarca, Noruega e o Mar do Norte inglês como destaques de sua estratégia de investimentos em 2005.
Olhando para a concorrência
Ressalvado o seu nicho mais típico (águas profundas), o Brasil deverá beneficiar-se do acirramento das condições fiscais e contratuais promovido recentemente por países como Casaquistão, Argentina, Venezuela e Nigéria.
Para 2005, os campeões da preferência das empresas petrolíferas internacionais em função de sucesso exploratório recente são, pela ordem: Líbia, águas profundas do Golfo do México (EUA e México); Argélia, Casaquistão, Irã, Angola, Nigéria e águas profundas da Malásia. São os chamados “hot spots” de 2005 e 2006.
Mantendo a regularidade na atração de investimentos exploratórios recentes estão: Mar do Norte inglês, Guiné Equatorial, Indonésia, Mar de Barents (Noruega/Russia), Egito, Azerbaijão, Vietnã e Alasca. Mencionados como potenciais áreas de diferenciação de foco estão: a plataforma continental norueguesa, Camarões, Peru, Argentina, Marrocos, Cuba, Austrália e Bolívia.
O Brasil esteve nestas listas entre 1999 e 2002. Naturalmente, diante da abertura recente de países do norte da África (Marrocos, Argélia, Líbia e Egito) e membros da OPEP (Irã, Iraque, Arábia Saudita, Indonésia-Kalimatan) ao investimento privado, mantém uma posição menos proeminente, mas ainda figura entre as áreas de fronteira com potencial de novas reservas em águas profundas.
Países africanos recém-abertos ao investimento também têm acirrado a concorrência. Mauritânia, Camarões, Gabão, Congo (Brazzaville) e Guiné Equatorial juntam-se a Nigéria e Angola na atração de investimentos exploratórios da África Setentrional. Moçambique e Quênia farão seus primeiros levantamentos sísmicos integrais em 2005 e logo se juntarão à lista.
GIROSCÓPIO
Cristal
A estimativa da Merrill Lynch para o lucro da Petrobras em 2005 é de R$ 22,6 bilhões. A recomendação aos clientes é de “compra”, embora com nota de risco de volatilidade “alto”. O preço da ação proposto como objetivo para 2005 é US$50/ADR, partindo dos atuais US$39,20.
A Merrill Lynch aponta dois fatores de risco para o preço da ação proposto: “(1) oscilações nos preços do petróleo e (2) andamentos político-econômicos no Brasil”, e propõe 5 perguntas fundamentais para que o investidor perceba a performance da Petrobras em 2005:
“(i) a Petrobras tem condições de fazer face à expectativa de retomada de aumento de produção em 2005?
(ii) as reservas da empresa darão o necessário suporte aos planos de expansão da produção no período 2005-2010?
(iii) os preços de derivados no Brasil manterão paridade com os preços internacionais?
(iv) a Petrobras será capaz de gerar retorno aceitável nos seus projetos de geração de eletricidade, em meio ao conturbado ambiente de investimentos no setor?
(v) a percepção de risco para o Brasil e demais “mercados emergentes” manter-se-á suficientemente positiva?”
Bonança
Se nada sair errado, a corretora prevê o início de um dos períodos de maior crescimento na história da empresa, baseado em três fatores:
(1) forte incremento da produção doméstica de petróleo;
(2) crescimento da participação do E&P internacional e;
(3) aumento da demanda interna por produtos refinados.DOT 2005 (Vitória, ES)
A Deep Offshore Technology – Edição 2005 será realizada em Vitória, Espírito Santo, entre 8 e 10 de novembro. Com o tema geral “Aprimorando o Ciclo de Tempo para a Produção em Águas Profundas”, a conferência reunirá mais de 1.800 especialistas do mais alto nível representando mais de 100 empresas atuantes em operações de águas profundas mundo afora.
É a terceira vez que este importante evento técnico internacional será realizado no Brasil, mas é a primeira vez que Vitória sediará um evento do calendário clássico da indústria internacional do petróleo.