O primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra 2004/05 aponta para um possível recorde na produção de grãos, que poderá atingir 130,9 milhões de toneladas. A pesquisa de campo realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 450 municípios das principais regiões produtoras, no começo deste mês, indica também uma produção mínima de 128,9 milhões de toneladas, com crescimento de 8,1% em relação ao total de 119,3 milhões de toneladas do ano safra anterior, ou de 9,8% no caso da estimativa máxima de 130,9 milhões de toneladas.
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, ao divulgar ontem os dados, ponderou que se trata da primeira intenção de plantio, ainda muito preliminar, com estimativas mínimas e máximas, dentro da margem de erro de 3% do levantamento feito pela Conab, mediante a aplicação de 1.770 questionários. Foram pesquisadas doze culturas agrícolas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Sul e oeste da Bahia, que abrange as regiões produtoras do Maranhão e do Piauí. A colheita de soja da safra 2004/05 poderá chegar ao recorde de 60,8 milhões de toneladas – mínima de 59,5 milhões de toneladas –, com cerca de 12 milhões de toneladas de grãos geneticamente modificados, e a de algodão em caroço em 2,2 milhões de toneladas.
Renda menor inibe plantio
Rodrigues destacou que a estimativa de área plantada é de aumento de um milhão de hectares, bem abaixo da expectativa inicial de expansão de três milhões de hectares. “E isto tem a ver evidentemente com a reação dos preços das principais commodities agrícolas nos mercados interno e externo, com queda de preços para soja, algodão, milho e trigo, principalmente. Há uma clara redução da intenção de plantio, um reflexo da perspectiva de menor para o ano que vem. De qualquer maneira há crescimento da área plantada, no limite de um milhão de hectares”. Cana-de-açúcar, café e laranja têm sinais de melhoria de renda para 2005, em função de uma oferta menor que a demanda.
Os produtos aumentarão a área cultivada são soja e algodão, com diminuição de área plantada para milho e arroz. “A redução da área de arroz é determinada por questões climáticas no Rio Grande do Sul, que impedem a irrigação adequada. Se chover bastante e houver uma reposição dos reservatórios de água para irrigação, essa redução poderá ser menor”, afirma o ministro.
Na visão de Rodrigues, se as condições de clima forem medianamente favoráveis, o Brasil certamente colherá uma safra recorde de grãos. Ele observou que a produção de soja poderá crescer até 22% em relação à anterior, e a de algodão algo em torno de 10%. “E milho, embora tenha redução de área plantada, poderá haver aumento de produção física de até 3%”, diz. Ele lembrou que na safra anterior a produção final de milho e soja ficou abaixo das estimativas por causa da seca no Sul e dos casos do fungo da ferrugem asiática da soja no Centro-Oeste.
Para o esperado recorde na produção de soja, a principal contribuição será dada pelo Mato Grosso, onde a área cultivada terá um aumento de cerca de 400 mil hectares, basicamente em função da substituição do cultivo de arroz de sequeiro e redução de pastagens para a pecuária. “Apenas 8% desse total será de expansão de fronteira agrícola”, diz Rodrigues. No caso do algodão, a produção crescerá no Mato Grosso, Bahia e São Paulo.
Roberto Rodrigues disse ainda que “o abastecimento está absolutamente garantido”, com um estoque de passagem de 6,3 milhões de toneladas, sendo 4,1 milhões de toneladas de milho, 1,3 milhão de toneladas de arroz, 630 mil toneladas de trigo e 420 mil toneladas de feijão. “Apesar da redução na produção desses produtos em 1,6 milhão de toneladas, teremos o maior estoque dos últimos anos”.
Em relação às exportações agrícolas, apesar de ainda ser muito cedo, o ministro disse que trabalha com a hipótese de vendas ao mercado externo próximas a US$ 12 bilhões do complexo soja – grão, óleo e farelo – no que vem, e perto de US$ 500 milhões do complexo algodão (em caroço e em pluma). “Deveremos ter importações de algodão da ordem 90 mil toneladas, e de trigo de 5 milhões de toneladas”, diz. Quanto à carne, destacou que espera uma definição sobre o embargo da Rússia ao produto brasileiro para os próximos 15 dias.
Rodrigues destacou ainda que o governo está investindo R$ 62 milhões em acesso, transbordo e calagem dos principais portos exportadores do País. “Isto poderá aumentar a exportação em US$ 1 milhão em março do ano que vem”, diz. Ele também citou a recuperação de 7,5 mil quilômetros de estradas pelo governo, o aumento de 6% na capacidade de armazenagem de grãos em nível de fazenda, e as negociações para a recuperação de ferrovias.
Na comercialização, Rodrigues disse que em 2005 a renda deve cair e os preços serão mais retraídos no mercado internacional. Os custos de produção devem ser maiores no mercado interno em função do aumento das cotações do petróleo (matéria-prima de fertilizantes) e do aço, que encarece o maquinário agrícola. “O cenário é realisticamente de equilíbrio, não otimista”.
Ele acredita que o consumo de fertilizantes deve cair 4,5%, para 21,8 milhões de toneladas. “Com condições climáticas favoráveis, a produtividade será mantida”, diz.