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Brasil defende OMC como fórum para subsídios agrícolas

O Brasil voltou a defender ontem a OMC (Organização Mundial de Comércio) como fórum para discutir o prejuízo causado aos produtores brasileiros pelos subsídios agrícolas americanos, ponto de maior tensão nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Para o governo francês, no entanto, o bloco econômico G-20 é o interlocutor essencial para a rodada da OMC. Hoje, os ministros das Relações Exteriores da França, Dominique de Villepin, e do Brasil, Celso Amorim, se encontraram em Brasília, para tratar de questões bilaterais e assuntos de interesse dos dois países.

Amorim disse que está satisfeito com a atitude da União Européia, reafirmada hoje pelo ministro francês, de reconhecer a importância do G-20 para a solução dos problemas que existem na rodada de Doha, como é chamada a negociação para a liberalização do comércio mundial. “Vamos ter uma reunião nos próximos dias em Genebra, em nível de negociadores. Acho que é positivo e ficamos gratificados com o espírito aberto e democrático da França”, disse Amorim.

Apesar de defender o G-20 como indispensável para as negociações da Alca, o ministro Villepin não deixou de esconder a preocupação com a possibilidade de países do bloco virem a ser prejudicados, já que o G-20 é formado por países com níveis de desenvolvimento bastante diferentes. Villepin disse que há muitas idéias falsas sobre trocas agrícolas e defendeu urgência para a aproximação do Mercosul com União Européia.

“A Europa não é uma fortaleza como se diz. A França e a Europa não defendem de maneira cega seus interesses, mas buscam políticas solidárias com os países mais pobres. Temos uma agricultura sensível; a Europa tem se esforçado para estabelecer uma política comum. Queremos retomar as negociações de Cancún e o G-20 é o interlocutor para isso. Estamos convencidos de que neste mundo o acordo entre Mercosul e União Européia é uma sorte que nos é dada”, afirmou. Como exemplo, o chanceler francês disse que 80% do suco de laranja consumido em seu país tem origem brasileira e 50% da soja importada pela França sai do Brasil.

Cerca de 25% do comércio brasileiro é feito com a União Européia, 25%, com os Estados Unidos e 21%, com a América Latina. França e Brasil têm demonstrado também afinidades na área cultural e na defesa da multipolaridade, na cooperação mundial, na discussão sobre a reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) – com a ampliação do Conselho de Segurança – e o combate à fome.

Segundo Celso Amorim, existe apenas um ponto de divergência entre os dois países: os subsídios agrícolas. “Apenas um ponto não temos concordância absoluta, mas sabemos da importância estratégica entre Mercosul e União Européia. A solução para os subsídios agrícolas só será encontrada na OMC, por isso damos tanta importância à rodada de Doha. Nunca renunciamos a nada na questão agrícola, mas podemos conseguir uma compensação na Alca em termos de acesso a mercado”, disse.

O Brasil é o terceiro país latino-americano que o ministro francês visita neste ano. Ele já esteve na Argentina, no Chile e amanhã viaja para o México. (Fonte: Agência Brasil)