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Brasil critica países desenvolvidos em Bali

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, criticou nesta quarta-feira, na conferência sobre mudanças climáticas de Bali, os países desenvolvidos, por sua responsabilidade no aquecimento global e falta de compromissos para remediar a situação.

“Os responsáveis históricos pela concentração de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera devem deixar de nos dar sermão e pregar com o exemplo”, declarou Amorim aos participantes da conferência sobre o clima, organizada pela ONU na ilha indonésia de Bali.

Depois de recordar que as responsabilidades pela poluição atmosférica são “diferentes”, o chanceler brasileiro pediu que os países desenvolvidos se comprometam a intensificar as reduções de gases que provocam o efeito estufa (GEI), principais responsáveis pelo aquecimento global.

Amorim também solicitou ao mundo desenvolvido que forneça os fundos financeiros para ajudar os países em desenvolvimento a aplicar medidas de abrandamento e adaptação às catastróficas conseqüências do aumento da temperatura.

“Como disse o presidente Lula na Assembléia Geral das Nações Unidas, é inaceitável que o custo da irresponsabilidade de uns poucos privilegiados seja suportado pelos desfavorecidos da Terra”, completou.

O chanceler brasileiro lembrou ainda que o maior emissor mundial de gases poluentes, os Estados Unidos, não ratificou o protocolo de Kyoto e que os países desenvolvidos não cumpriram as promessas de transferir tecnologia limpa aos países pobres.

Apesar do Protocolo de Kyoto fixar objetivos vinculantes apenas para os países desenvolvidos, muitas nações em desenvolvimento estão aplicando medidas voluntárias para reduzir suas emissões poluentes, destacou o chefe da diplomacia brasileira.

Assim, o Brasil aplica com êxito políticas para reduzir as emissões derivadas do desmatamento.

“A perda da floresta tropical no Brasil nos últimos três anos caiu quase 60%, o que representa uma redução de emissões de mais de 400 milhões de toneladas de CO2”, afirmóou

A cada ano se perdem aproximadamente 13 milhões de hectares de floresta tropical no mundo, para a venda de madeira ou a criação de áreas de cultivo. Isto representa 20% das emissões mundiais de GEI.

“Apesar de ser importante, o desmatamento representa apenas uma parte do problema mundial. A utilização de combustíveis fósseis continua sendo, de longe, a principal fonte de gases de efeito estufa”, afirmou Amorim.

O chanceler não desperdiçou a oportunidade de ressaltar a divergência do Brasil com os Estados Unidos e a União Européia (UE) a respeito da supressão de taxas de importação para os produtos ecológicos.

Uma proposta neste sentido foi apresentada por europeus e americanos há duas semanas na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas não inclui, para irritação do Brasil, os biocombustíveis, sob o pretexto de que se trata de um produto agrícola.

O Brasil é o principal produtor mundial de bioetanol, produzido a partir da cana-de-açúcar.

“A utilização de etanol como substituto da gasolina evitou a emissão de 644 milhões de toneladas de CO2 nos últimos 30 anos”, enfatizou Amorim.

“No entanto, os maiores consumidores de energia no mundo desenvolvido apresentaram todo tipo de barreiras aos biocombustíveis procedentes dos países em desenvolvimento”, acrescentou.

“Ao mesmo tempo gastam bilhões de euros e dólares para subsidiar suas indústrias ineficientes”, concluiu.