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Brasil caminha para liderar a produção de hidrogênio de baixo carbono

Novo marco legal deve impulsionar a produção de hidrogênio e amônia verde, ampliando as oportunidades no setor energético e industrial do país

Brasil caminha para liderar a produção de hidrogênio de baixo carbono

O Brasil está em uma posição estratégica para se consolidar como um dos maiores produtores mundiais de hidrogênio de baixo carbono, um insumo cada vez mais relevante para os setores de energia, indústria e fertilizantes. A aprovação do marco legal do hidrogênio, sancionado em agosto de 2024, foi um passo decisivo para acelerar esse processo. A nova legislação estabelece as bases para o desenvolvimento de hidrogênio verde e amônia, temas amplamente debatidos no 3º Encontro Migratio de Energia e Gás (3º EMEG), realizado em Santa Gertrudes, São Paulo.

Durante o evento, líderes do setor discutiram as oportunidades e os desafios do hidrogênio e da amônia de baixo carbono no Brasil. Entre os participantes estavam Leandro Borgo, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes (ABHAV), Luiz Paulo Hauth, diretor de Tecnologia da Begreen Bioenergia, Gustavo Noronha, gerente de Projetos de Tecnologia da Toyota do Brasil, Eduardo Rossi, da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), e André Ferrarese, diretor de P&D da Tupy Energia.

Fábio Saldanha, sócio-diretor da Migratio e um dos organizadores do encontro, destacou que o marco legal, embora ainda dependa de regulamentações adicionais, já oferece um horizonte promissor para o mercado. “A Lei 14.948, de 2024, garante benefícios fiscais por cinco anos, a partir de janeiro de 2025. Isso significa que as empresas devem acelerar seus projetos para aproveitar essa janela de oportunidades”, afirmou Saldanha.

A vantagem competitiva do Brasil reside em sua matriz energética predominantemente renovável, com cerca de 90% proveniente de fontes limpas. “O hidrogênio verde, produzido por meio da eletrólise da água, exige grandes quantidades de energia limpa, algo que o Brasil já possui em abundância. Isso nos coloca em uma posição privilegiada no cenário global”, explicou Saldanha.

Dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que mais de 20 projetos de hidrogênio verde estão em andamento no Brasil, com investimentos que ultrapassam R$ 188 bilhões. Saldanha vê nesse número apenas o começo de um movimento exponencial, com o Brasil assumindo um papel de liderança no setor nos próximos anos.

Leandro Borgo, presidente da ABHAV, abordou a transição europeia do gás natural russo para energias renováveis e destacou o avanço brasileiro no campo das energias limpas. Segundo ele, o armazenamento de energia gerada por fontes renováveis ainda é um desafio, especialmente em regiões com grande capacidade de geração eólica e solar, mas que sofrem com a intermitência dessas fontes. Borgo frisou que o hidrogênio pode ser uma solução viável para esses gargalos, contribuindo para a estabilidade do sistema energético.

Eduardo Rossi, da CCEE, reforçou a importância da certificação internacional para garantir a competitividade do hidrogênio brasileiro. Desde 2022, a CCEE tem trabalhado na estruturação de uma cadeia de certificação para o hidrogênio de baixo carbono, que será essencial para garantir a aceitação dos produtos brasileiros no mercado global. “A certificação é crucial para garantir a qualidade dos projetos e adequá-los aos padrões internacionais, especialmente os da União Europeia”, destacou Rossi.

André Ferrarese, diretor de P&D da Tupy Energia, destacou o papel do hidrogênio na descarbonização de setores industriais intensivos em emissões, como fertilizantes e refino de petróleo. Ele apontou que, embora muitos projetos ainda estejam em estágio inicial, o Brasil tem potencial para produzir até 1,8 bilhão de toneladas de hidrogênio por ano de maneira econômica. “Esperamos que, nos próximos dez anos, os custos de produção do hidrogênio se igualem aos do diesel, o que aumentará sua competitividade”, afirmou.

Ferrarese também enfatizou a necessidade de desenvolver a infraestrutura de transporte e distribuição do hidrogênio, sugerindo opções como gasodutos e a conversão do hidrogênio em amônia ou metanol para facilitar seu armazenamento e exportação. No âmbito da mobilidade, ele destacou o uso potencial do hidrogênio como combustível em veículos urbanos, embora ainda haja desafios relacionados à eficiência e ao custo quando comparado aos combustíveis tradicionais.

Gustavo Noronha, da Toyota do Brasil, compartilhou a evolução das tecnologias de mobilidade da empresa, que lançou o primeiro carro híbrido em 1997 e, desde então, vem ampliando seu portfólio com veículos elétricos e movidos a hidrogênio. Noronha destacou que o foco da Toyota sempre foi a redução das emissões de carbono, mais do que a adoção de uma tecnologia específica. “No Brasil, por exemplo, adaptamos nossa tecnologia híbrida para funcionar com o etanol, um combustível amplamente disponível e sustentável no país”, explicou.

Ele também mencionou os avanços da Toyota no desenvolvimento de células de combustível que integram motor elétrico, bateria e controle de potência. A empresa está engajada em parcerias internacionais para explorar o uso do hidrogênio em diferentes setores, incluindo o transporte de carga e aplicações navais.