A expectativa dos organizadores do Agrishow de Ribeirão Preto é de que, durante sua realização, sejam concluídos negócios que totalizarão de R$ 800 milhões a R$ 900 milhões. Não será um valor recorde – este foi estabelecido há três anos, quando os negócios alcançaram R$ 1,288 bilhão -, mas será bem mais do que o total registrado no ano passado, de R$ 500 milhões. Até o próximo sábado, 500 expositores estarão participando deste que está sendo considerado o Agrishow da retomada do crescimento da agropecuária brasileira, contrapondo-se claramente aos dos dois anos anteriores, os da crise.
Apesar das dificuldades que enfrentou e da valorização do real em relação ao dólar, o agronegócio apresentou excelentes resultados em sua balança comercial em 2006. As exportações somaram US$ 49,4 bilhões, enquanto as importações ficaram em US$ 6,7 bilhões, o que resultou num superávit de US$ 42,7 bilhões, ou 93% do saldo total da balança comercial brasileira.
O avanço das exportações de açúcar e álcool e a recuperação dos preços de alguns produtos devem garantir em 2007, além de um bom desempenho do agronegócio na área externa, um aumento expressivo da renda no campo, que já vem estimulando muitos negócios e dá força a projeções como as feitas pelos organizadores do Agrishow.
No primeiro trimestre deste ano, a produção de máquinas agrícolas (colheitadeiras e tratores) cresceu 8% em relação à produção dos três primeiros meses do ano passado. Foram 12,1 mil unidades, contra 11,2 mil produzidas em 2006. Também neste caso não se trata de um recorde, mas de uma indicação de que se consolida a recuperação.
Em 2005, o pior ano da crise, foram vendidas no País 23,2 mil unidades; no ano passado, as vendas somaram 25,7 mil unidades. A expectativa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores é de que, em 2007, sejam vendidos internamente 29 mil tratores e colheitadeiras.
Consultadas pela reportagem do Estado, empresas fabricantes desses equipamentos lembram que, no pior momento da crise, tiveram de demitir trabalhadores, mas informam que, desde o início do ano, estão contratando. Uma delas, a holding CNH, já admitiu 300 trabalhadores. E está revendo suas projeções de vendas para 2007: até há pouco, a empresa previa aumento de 10%; com os resultados do primeiro trimestre, elevou a projeção para 20%. Outra empresa mede o aquecimento da demanda por outro parâmetro, o prazo para a entrega do equipamento: chegou a ser de 20 dias, mas agora está em 60.
A mais recente estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é de que, neste ano, os produtores rurais faturarão R$ 188 bilhões, 8,6% mais do que faturaram no ano passado. Todos os setores devem apresentar crescimento em 2007, mas o que deve registrar o maior aumento de faturamento é o de grãos, por causa da esperada safra recorde, de 131,1 milhões de toneladas neste ano, e da alta de preços de produtos como milho e soja. Os preços desses itens subiram depois que o governo americano anunciou que a prioridade da safra de milho será para a produção de etanol.
A agricultura brasileira, como mostrou o economista Antônio Márcio Buainain em artigo publicado terça-feira no Estado, tem funcionado há décadas como amortecedor de crises econômicas. Já alcançara expressivos ganhos de produtividade entre 1990 e 1999 (média de 2,65% ao ano), mas conseguiu melhorar seu desempenho entre 2000 e 2005 (crescimento de 3,87% ao ano) e é o que tem o maior potencial para crescer nas próximas décadas, por causa da disponibilidade de água e terras aráveis (entre as quais pastagens degradadas e que podem ser recuperadas).
Mas, como em outras áreas, tudo isso poderá ser apenas promessa se entraves não forem superados. A agricultura, como toda a economia brasileira, necessita de infra-estrutura adequada. Um sistema eficaz de defesa da agropecuária é essencial para evitar que sanções de natureza sanitária aplicadas por parceiros comerciais prejudiquem nossas exportações.